A escola tem sido considerada um local privilegiado para a aquisição de hábitos alimentares saudáveis. Atualmente, em Portugal, não existe legislação obrigatória referente ao lanche da manhã realizado na escola, possibilitando que as crianças consumam qualquer tipo de alimento trazido de casa. Este estudo tem como objetivo avaliar os efeitos de um programa de educação alimentar na qualidade alimentar e nutricional dos lanches da manhã em crianças da ilha de São Miguel, Açores.

O protocolo descreve o desenho de um estudo quase-experimental que irá incluir crianças do segundo ano de escolaridade. A intervenção envolverá as crianças, a escola e as suas famílias, e consiste em dois eixos principais: i) inclusão da educação alimentar no currículo escolar, através da leitura de um livro de histórias; e ii) avaliações qualitativas dos lanches da manhã durante a intervenção. A avaliação da qualidade alimentar dos lanches será realizada utilizando um semáforo nutricional. A avaliação da qualidade nutricional será realizada através de uma base de dados eletrónica, que incluiu a Tabela Portuguesa de Composição dos Alimentos. A recolha de dados será realizada nos momentos pré- e pós-intervenção.

Espera-se que a implementação deste programa de educação alimentar possibilite a melhoria das escolhas alimentares das crianças no lanche da manhã, em resposta a uma intervenção que envolverá as crianças, os seus pais e professores. Em última instância, espera-se que os resultados possam contribuir para a definição de futuras políticas alimentares e nutricionais, em contexto escolar, a curto e longo prazo.

A formação de hábitos alimentares ocorre em grande medida nos primeiros anos de vida sendo recomendada uma alimentação variada, nutricionalmente equilibrada e completa para garantir um ótimo crescimento e desenvolvimento das crianças. Esta revisão visa compreender que aspetos contribuem para a criação de hábitos alimentares em crianças em idade pré-escolar, tendo para isso recorrido à pesquisa na PubMed a partir das palavras-chave “food”, “eating habits” e “preschool child”. Vários fatores podem influenciar a formação de hábitos alimentares das crianças como são disso exemplo aspetos relacionados com os pais e os avós (e.g. idade e nível de escolaridade), ou fatores concretos como a neofobia alimentar ou a presença de doenças nessa fase do ciclo de vida. Estando os nutricionistas mais consciente dos fatores que influenciam os hábitos alimentares das crianças em idade pré-escolar, terão maior probabilidade de verdadeiramente as conseguir auxiliar e aos seus cuidadores.

A escola desempenha um papel essencial na promoção de estilos de vida e hábitos alimentares saudáveis. Com o encerramento destes estabelecimentos, devido ao 2.º confinamento imposto pela pandemia COVID-19, tornou-se pertinente avaliar o seu impacto nos estilos de vida das crianças/adolescentes e estudar os respetivos fatores associados. Aplicou-se um questionário online (aos encarregados de educação dos alunos da Educação Pré-Escolar/1.º Ciclo e aos alunos do 2.º/3.º Ciclo) recolhendo informação sociodemográfica, antropométrica, de estado da saúde, estilos de vida e respetivas alterações provocadas pelo 2.º confinamento. Recorreu-se à UniANCOVA para identificar os fatores associados às alterações encontradas. Este estudo realizou-se num Agrupamento de Escolas do Norte de Portugal em 494 alunos (idade média de 11 anos, variando entre os 3 e os 16 anos, 51,0% sexo feminino, 49,2% 3.º Ciclo, 35,2% excesso de peso). Do total, 57,0% cumpre as recomendações das horas de sono, 24,0% do tempo de atividade física e 31,4% de tempo de ecrã. Mais de 70,0% dos alunos incluiu alimentos não recomendáveis aos lanches e ao jantar. Devido ao confinamento, 93,0% relatou pelo menos uma alteração negativa, sendo a mais frequente o aumento do tempo de ecrã diário (63,8%). A alteração positiva mais relatada foi a realização de mais refeições em família (66,5%). Os inquiridos que reportaram uma melhor autoperceção da sua alimentação foram os que tiveram mais alterações positivas dos estilos de vida devido à pandemia. Por outro lado, estar entre o percentil 15 e 85 de Índice de Massa Corporal associou-se a mais alterações negativas.

Introdução: A insegurança alimentar caracteriza-se por qualquer falta de garantia do acesso regular a alimentos seguros e de valor nutricional adequado, podendo levar a hábitos alimentares inadequados e a um maior risco de obesidade.

Objetivos: Caracterizar e estudar as associações entre hábitos alimentares, estado estaturo-ponderal e insegurança alimentar num grupo populacional com auxílio económico para a compra de alimentos.

Metodologia: Estudo observacional de desenho transversal com aplicação de um questionário incluindo características sociodemográficas, estado estaturo-ponderal, hábitos alimentares, insegurança alimentar e géneros alimentícios adquiridos através do apoio social a cada representante dos agregados familiares beneficiários do apoio “+ Alimentação”, inserido no programa “Social +” do Município de Gondomar.

Resultados: De um total de 58 participantes, 70,7% (n = 41) era do sexo feminino e 58,6% (n = 34) vivia sozinho. Dos representantes dos agregados, 63,7% (n = 35) apresentavam excesso de peso e 77,6% (n = 45) uma adesão moderada a hábitos alimentares saudáveis, com 35,8% (n = 19) em contexto de insegurança alimentar grave. Um Índice de Massa Corporal mais elevado associou-se a maior insegurança alimentar (r = 0,380; p = 0,006) e participantes mais velhos apresentavam hábitos alimentares mais saudáveis (r = 0,348; p = 0,007).

Conclusões: Mais de metade da amostra apresentou uma adesão moderada a hábitos alimentares saudáveis. Um Índice de Massa Corporal mais elevado associou-se a maior nível de insegurança alimentar nos beneficiários de apoio social para a compra de alimentos.

Introdução: O confinamento devido à pandemia por COVID-19 acarretou modificações nos estilos de vida, nomeadamente nos hábitos alimentares e atividade física das crianças.

Objetivos: Avaliar as alterações do estilo de vida de estudantes do 3.º ano do ensino básico dos Agrupamentos de Escolas do concelho do Marco de Canaveses no segundo confinamento, comparativamente ao período de aulas presenciais.

Metodologia: Estudo observacional descritivo transversal aplicado a uma amostra de conveniência de 210 estudantes com idade média de 8 anos (dp 0,51), através do autopreenchimento de um questionário online pelos Encarregados de Educação, entre 29 de abril e 18 de junho. O questionário era constituído por sete grupos: 1) questões sociodemográficas, 2) questões gerais sobre os hábitos alimentares, estado nutricional e atividade física; 3) preocupação do encarregado de educação sobre o estilo de vida da criança; 4) alterações emocionais; 5) frequência do consumo alimentar; 6) ocorrência de episódios de ingestão emocional; 7) prática de atividade física.

Resultados: Segundo o reportado pelos Encarregados de Educação, 36,7% das crianças aumentaram a ingestão alimentar, 56,2% petiscaram mais alimentos, 58,6% diminuíram a atividade física e 32,4% aumentaram de peso no segundo confinamento. Os estudantes que aumentaram de peso apresentaram um aumento da ingestão alimentar e da frequência do ato de petiscar e uma diminuição da prática de atividade física. Os educandos, cujos pais se sentem capazes de transmitir hábitos alimentares saudáveis, aumentaram o consumo de hortícolas e diminuíram o consumo de arroz/massa/batata e doces. Valores superiores de sobreingestão emocional, associaram-se a maior ingestão alimentar, maior frequência do ato de petiscar e aumento de peso.

Conclusões: Cerca de metade das crianças alterou negativamente o estilo de vida em termos de alimentação e atividade física, e cerca de um terço aumentou de peso. O incentivo e adoção de estilos de vida saudáveis pelos encarregados de educação influenciaram a ingestão alimentar das crianças.

 

A quarentena, voluntária ou obrigatória, suscita transformações inevitáveis no estilo de vida. A presente revisão narrativa da literatura visa estudar os hábitos alimentares adotados durante pandemias e epidemias com repercussões mundiais. Enquanto antigamente as doenças infeciosas eram predominantes em indivíduos desnutridos por escassez de alimento, hoje afetam desnutridos devido a hábitos alimentares excessivos e desequilibrados. A Gripe Espanhola originou grande escassez de alimento e insegurança alimentar. A Gripe das Aves e a Gripe A não afetaram hábitos no consumo da carne e ovos, apesar do impacto no setor alimentar. Tanto a Gripe A como a COVID-19 foram exacerbadas pela elevada prevalência de doenças crónicas, nomeadamente a obesidade. A atuação do nutricionista em contexto pandémico ou epidémico, é crucial por promover, junto da população, a adoção de um estilo de vida saudável, principalmente hábitos alimentares, como medida preventiva.

Introdução: Estudo desenvolvido pela Universidade do Algarve, inserido no âmbito do Projeto 0290_MEDITA_5_P – “Dieta Mediterrânica Promove Saúde”, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Operacional (POCTEP).

Objetivos: Caracterizar os hábitos alimentares, de saúde e a adesão ao padrão alimentar mediterrânico dos jovens do ensino secundário da região do Algarve.

Metodologia: Estudo descritivo transversal onde se inquiriu, em ambiente escolar, uma amostra de jovens, do 10.º ano de escolaridade, dos cursos científico-humanísticos e cursos profissionais de oito escolas secundárias da região do Algarve. Recolheu-se informação através de um questionário de autopreenchimento com cinco secções: 1) hábitos alimentares; 2) adesão ao padrão alimentar mediterrânico (Índice KIDMED); 3) prática de atividade física; 4) higiene do sono e oral; 5) características sociodemográficas. Registou-se o peso, altura, perímetro da cintura e da anca, e a pressão arterial, obtidos através de metodologias de referência.

Resultados: A amostra final incluiu 325 participantes, 47% (n=153) do sexo masculino e 53% (n=172) do sexo feminino, com idades entre 15 e 19 anos (M=16,4 anos; DP=0,89 anos). Analisou-se o percentil Índice de Massa Corporal/Idade de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde e registou-se uma prevalência de sobrecarga ponderal de 19,7%. Os resultados do Índice KIDMED (M= 6,9 pontos; DP=2,46) indicam uma baixa adesão ao padrão alimentar mediterrânico em 9,0% dos participantes, adesão intermédia em 45,5% e adesão alta em 45,5%.

Conclusões: Os resultados indicam que devem ser delineadas estratégias de educação alimentar e de promoção da saúde dirigidas à população juvenil, tendo por base a Dieta Mediterrânica.

Introdução: Os hábitos alimentares inadequados são responsáveis pelo aumento de doenças crónicas em todo o Mundo. O diagnóstico do estado nutricional e a recolha de informação do consumo alimentar são fundamentais na definição de estratégias de promoção de uma alimentação mais saudável.

Objetivos: Caracterizar o estado nutricional da população adulta (18-65 anos) da Região Autónoma da Madeira; e comparar o consumo alimentar com as recomendações da Roda dos Alimentos Portuguesa.

Metodologia: Estudo transversal com 933 adultos, realizado entre 2012-2015. Dados sobre a ingestão alimentar obtidos através do questionário das 24 horas anteriores e recolhidos dados de Peso, Estatura, Perímetro da Cintura, Massa Gorda e Massa Isenta de Gordura. A análise estatística descritiva incluiu frequências, mediana, percentis 25 e 75, média e desvio-padrão. O teste do Qui-quadrado foi usado para comparar variáveis categóricas. Os testes t de Student e ANOVA foram realizados para comparar diferenças entre as médias, e os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis quando os pressupostos da normalidade não se verificaram. Foi usado um nível de significância de 5%.

Resultados: O valor médio de Índice de Massa Corporal para o total da população adulta da Região Autónoma da Madeira foi de 26,6 Kg/m2 (±5,4), sem diferença significativa entre sexos (p>0,05). O valor médio do Perímetro da Cintura foi de 89,2 cm (±13,8) para as mulheres e de 93,6 cm (±13,0) para os homens (p<0,05). O grupo etário acima dos 49 anos foi o que apresentou valores mais elevados de Peso, Índice de Massa Corporal, Massa Gorda e Perímetro da Cintura, enquanto os mais novos apresentaram os valores médios mais baixos (p<0,05). Comparativamente com as recomendações, a população adulta da Região Autónoma da Madeira consumiu, proporcionalmente, mais 7% de alimentos do grupo “Carne, pescado e ovos”, e menos “Hortícolas” (-12%), “Cereais” (-7%) e “Fruta” (-5%).

Conclusões: A população adulta da Região Autónoma da Madeira apresentou um consumo inadequado para quase todos os grupos de alimentos e mais de metade tinha excesso de peso.

Introdução: A insatisfação com a imagem corporal pode associar-se à adoção de diferentes práticas alimentares, no entanto, a evidência é escassa e foca-se em grupos específicos de indivíduos, tais como estudantes universitários, mulheres e adolescentes.

OBJETIVOS: Avaliar a associação entre a (in)satisfação com a imagem corporal e o consumo alimentar e nutricional de adultos jovens. METODOLOGIA: Participaram neste estudo 111 adultos (18-35 anos, 67,6% mulheres), selecionados por conveniência. A perceção da imagem corporal foi avaliada através da Escala de Silhuetas de Stunkard et al. e categorizada em satisfação, insatisfação por défice (diferença negativa entre a imagem corporal real e a desejada) e insatisfação por excesso (diferença positiva entre a imagem corporal real e a desejada). O consumo alimentar foi avaliado através da administração direta de um Questionário de Frequência Alimentar validado para a população adulta Portuguesa. As associações foram avaliadas por regressão linear (coeficientes β̂ e respetivos intervalos de confiança a 95% – IC95%), após ajuste para idade, escolaridade e exercício físico e após estratificação por sexo.

RESULTADOS: As mulheres mostraram-se mais insatisfeitas com a sua imagem corporal por excesso (57,3% vs. 30,6%, p=0,009), enquanto a insatisfação por défice foi mais reportada pelos homens (27,8% vs. 9,3%, p=0,009). Os homens insatisfeitos por défice (desejo de aumentar o tamanho corporal) apresentaram consumos mais elevados de pescado (β̂=181,0, IC95%:38,3;323,6), ovos (β̂=23,1, IC95%:2,9;43,2), fruta (β̂=191,3, IC95%:90,0;292,5) e hortícolas (β̂=221,6, IC95%:99,7;343,4), o que se traduziu em ingestões significativamente superiores de energia, proteínas (em contributo percentual para o valor energético total), fibra alimentar, vitamina B12, vitamina C, cálcio, magnésio, potássio e sódio, quando comparados com os satisfeitos com a sua imagem corporal. Nas mulheres, não foram encontradas diferenças significativas.

CONCLUSÕES: A maioria dos adultos jovens encontra-se insatisfeito com a sua imagem corporal, sendo que quase 30% dos homens manifestou o desejo de aumentar o seu tamanho corporal. Esta insatisfação da imagem corporal por excesso associou-se a consumos mais elevados de pescado e ovos, bem como fruta e hortícolas, o que se traduziu, do ponto de vista nutricional, em ingestões superiores de energia, proteína (em função do valor energético total), fibra alimentar, vitamina B12, vitamina C, cálcio, magnésio, potássio e sódio.

Introdução: A prevalência de obesidade e excesso de peso em Portugal tem vindo a aumentar. Assim, é fundamental avaliar a eficácia da consulta de nutrição, promovendo uma intervenção eficaz.

Objetivos: Estudar o efeito da intervenção alimentar na evolução da composição corporal e na adoção de hábitos alimentares saudáveis em utentes com excesso de peso ou obesidade.

Metodologia: Estudo epidemiológico observacional, descritivo e prospetivo, numa amostra de conveniência de doentes adultos com excesso de peso ou obesidade de ambos os géneros que foram acompanhados mensalmente durante 3 meses nas consultas externas de nutrição na Unidade de Portimão do Centro Hospitalar Universitário do Algarve. A informação referente a hábitos alimentares foi obtida através do inquérito alimentar às 24 horas anteriores. Procedeu-se também à avaliação da composição corporal pela técnica de bioimpedância.

Resultados: Foram incluídos 38 utentes (22 do sexo feminino e 16 do sexo masculino), os quais apresentaram uma idade média de 57,8 ± 12,7 anos. Encontrou-se uma diferença estatisticamente significativa entre os valores antropométricos antes e após a intervenção alimentar individualizada (p < 0,01). Verificou-se, uma diminuição das médias de peso (92,8 ± 15,0 versus 91,1 ± 14,2 Kg) e Índice de Massa Corporal (35,3 ± 6,3 versus 34,6 ± 6,0 Kg/m2) entre a primeira e a terceira consultas de nutrição, correspondendo a um estado de obesidade classe 2 e obesidade classe 1, respetivamente. Adicionalmente, observou-se que 55,3% dos doentes perderam massa gorda. Verificou-se, ainda, um aumento estatisticamente significativo do número diário de refeições (p < 0,01) e do consumo de hortofrutícolas (p < 0,05). A prática de atividade física e o aumento do número diário de refeições, do consumo de hortofrutícolas e da ingestão hídrica não revelaram associação estatisticamente significativa com a diminuição da percentagem de massa gorda.

Conclusões: A intervenção alimentar direcionada foi essencial na promoção de hábitos alimentares saudáveis.