A escola desempenha um papel essencial na promoção de estilos de vida e hábitos alimentares saudáveis. Com o encerramento destes estabelecimentos, devido ao 2.º confinamento imposto pela pandemia COVID-19, tornou-se pertinente avaliar o seu impacto nos estilos de vida das crianças/adolescentes e estudar os respetivos fatores associados. Aplicou-se um questionário online (aos encarregados de educação dos alunos da Educação Pré-Escolar/1.º Ciclo e aos alunos do 2.º/3.º Ciclo) recolhendo informação sociodemográfica, antropométrica, de estado da saúde, estilos de vida e respetivas alterações provocadas pelo 2.º confinamento. Recorreu-se à UniANCOVA para identificar os fatores associados às alterações encontradas. Este estudo realizou-se num Agrupamento de Escolas do Norte de Portugal em 494 alunos (idade média de 11 anos, variando entre os 3 e os 16 anos, 51,0% sexo feminino, 49,2% 3.º Ciclo, 35,2% excesso de peso). Do total, 57,0% cumpre as recomendações das horas de sono, 24,0% do tempo de atividade física e 31,4% de tempo de ecrã. Mais de 70,0% dos alunos incluiu alimentos não recomendáveis aos lanches e ao jantar. Devido ao confinamento, 93,0% relatou pelo menos uma alteração negativa, sendo a mais frequente o aumento do tempo de ecrã diário (63,8%). A alteração positiva mais relatada foi a realização de mais refeições em família (66,5%). Os inquiridos que reportaram uma melhor autoperceção da sua alimentação foram os que tiveram mais alterações positivas dos estilos de vida devido à pandemia. Por outro lado, estar entre o percentil 15 e 85 de Índice de Massa Corporal associou-se a mais alterações negativas.

Introdução: A doença de coronavírus 19 (COVID-19) afetou milhões de vidas em todo o mundo. Apesar do impacto favorável do Padrão Alimentar Mediterrânico nos distúrbios cardiometabólicos, que predispõem à infeção por COVID-19, é importante conhecer os componentes alimentares com potencial para melhorar os resultados relacionados com a doença.

Objetivos: Investigar a associação entre o Padrão Alimentar Mediterrânico e seus componentes com a gravidade dos sintomas COVID-19.

Metodologia: Estudo transversal em uma amostra de adultos recuperados da infeção por COVID-19, residentes no Funchal e não vacinados. Dados sobre variáveis sociodemográficos, estilo de vida, presença de doenças crónicas, ingestão de suplementos alimentares, estado de saúde percecionado, sintomas de COVID-19 e consumo alimentar foram recolhidos usando o método Computer Assisted Telephone Interview. A adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico foi obtida a partir do questionário MEDAS (Mediterranean Diet Adherence Score). Modelos de regressão logística simples e múltipla foram usados para analisar a gravidade dos sintomas da COVID-19 e diferentes métricas.

Resultados: Um total de 542 adultos foram incluídos no estudo, 60,0% do sexo feminino e 53,9% com idade entre 40 e 59 anos. Os dados mostram que 15,7% dos participantes eram assintomáticos para infeção por COVID-19 e 26,9% apresentavam sintomas graves. Uma forte adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico foi encontrada em 14,8% dos participantes, sendo significativamente maior entre os assintomáticos do que naqueles que relataram sintomas leves ou graves. Baixa ingestão de carnes vermelhas/ processadas, gorduras (manteiga/creme ou margarina), pastelaria e refrigerantes/ bebidas açucaradas, assim como o consumo mais frequente de carne de aves do que carne vermelha, foi associada a uma menor gravidade dos sintomas, após ajustado para sexo, idade e escolaridade. Os participantes que relataram consumo adequado de azeite (OR=0,47; IC 95%: 0,25-0,88) e hortícolas (OR=0,57; IC 95%: 0,35-0,94) apresentaram menor probabilidade de ter algum sintoma da doença. Contudo, os resultados não foram consistentes, quando considerados vários itens, associados na análise bivariada e em modelos de regressão logística não ajustados.

Conclusões: A adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico, em particular o consumo adequado de azeite e vegetais, a ingestão limitada de pastelaria, carnes vermelhas/processadas, gorduras e refrigerantes/ bebidas açucaradas, foi associada a menor severidade de sintomas da infeção por COVID-19.

Homem de 81 anos, com pneumonia por COVID-19 confirmada, foi hospitalizado por falência respiratória hipoxémica e hipernatrémia hipovolémica grave. Durante a abordagem pré-hospitalar, foi medicado para taquicardia supraventricular com adenosina, com sucesso. No Serviço de Urgência apresentou-se com alteração do estado de consciência alternando prostração com agitação, se estimulado. Estudos subsequentes confirmaram infeção por SARS-CoV2 e pneumonia COVID-19 (radiografia de tórax) com insuficiência respiratória hipoxémica. Estudos analíticos indicavam falência renal com hipernatrémia hipovolémica. Em enfermaria dedicada a COVID-19, foram iniciadas medidas de conforto, mas o doente manteve-se estável. Assim, foi colocada Sonda nasogástrica para correção da desidratação. Ao mesmo tempo, o doente foi identificado como tendo elevado risco nutricional, garantindo avaliação por equipa de nutricionistas, seguindo-se implementação de plano nutricional ajustado. A integração atempada de uma intervenção nutricional proativa e especializada com os cuidados clínicos fizeram a condição do doente melhorar progressivamente.

Apesar de todas as restrições e desafios clínicos no cuidado a doentes idosos com COVID-19, a identificação do risco e monitorização nutricional, em articulação multidisciplinar, permanece essencial e, conforme é descrita neste caso, permitiu a implementação atempada de hidratação e medidas nutricionais que contribuíram para a resposta clínica favorável. O doente apresentou uma melhoria até ao estado habitual e teve alta para o lar de onde tinha vindo, onde ainda hoje reside, em boa saúde sem perda de função. Este caso demonstra a importância e necessidade de implementação e integração de cuidados nutricionais nas hospitalizações por COVID-19.

Introdução: O papel benéfico da Dieta Mediterrânea (DietMed) tem sido reconhecido no impacto de doenças capazes de predispor a uma maior gravidade de sintomas COVID-19, bem como no tratamento e melhoria dos sintomas.

Objetivos: Investigar a associação entre a gravidade dos sintomas COVID-19 e a adesão à DietMed.

Metodologia: Estudo observacional e transversal, aplicado a 542 adultos (18-64 anos) não vacinados, recuperados da doença e residentes no Funchal. Foram recolhidos dados sobre fatores sociodemográficos, estilo de vida, estado de saúde e sintomas COVID-19. Para obter o grau de adesão à DietMed foi aplicado o questionário MEDAS (Mediterranean Diet Adherence Score). Modelos de regressão logística foram usados para estudar a associação entre o grau de adesão à DietMed e a presença de sintomas graves de COVID-19.

Resultados: Dos participantes, 60,0% eram mulheres e 53,9% tinham entre 40-59 anos de idade. Durante a infeção por SARS-Cov-2, 73% foram assintomáticos ou tiveram sintomas leves e cerca de 27% desenvolveu sintomas graves. Neste estudo, a adesão à DietMed foi considerada fraca para 24%, moderada para 62% e forte para 15% dos adultos inquiridos. No modelo ajustado para todas as variáveis em estudo, e comparativamente a um fraco grau de adesão à DietMed, o OR de desenvolver sintomas graves foi de 0,519 (IC 95%: 0,280-0,914) e de 0,48 (IC 95%: 0,252-0,918) para uma adesão moderada e forte, respetivamente.

Conclusões: Neste estudo, os adultos com forte adesão à DietMed apresentaram menor probabilidade de desenvolver sintomas graves da doença COVID-19. A recomendação de um consumo elevado de produtos hortícolas, fruta, leguminosas, cereais pouco refinados, azeite, frutos secos e oleaginosas, bem como a precaução na ingestão de carnes vermelhas e produtos industrializados deve, por isso, ser considerada na redução do risco da gravidade de doença COVID-19.

Introdução: A pandemia da COVID-19 tem levantado discussões acerca dos benefícios da vitamina D na prevenção e no tratamento da doença. Esta vitamina desempenha um papel eficaz no sistema imunológico, podendo contribuir para uma resposta adequada à infeção por SARS-CoV-2.

Objetivos: Rever a evidência científica sobre o efeito da suplementação da vitamina D nos doentes com COVID-19.

Metodologia: A pesquisa foi realizada em bases de dados eletrónicas, nomeadamente Pubmed e Web of Science, com publicações no último ano, utilizando as palavras-chave: “COVID-19” or “SARS-CoV-2” or “coronavirus”, vitamin D” and “dietary supplements”. Após aplicar os critérios de inclusão e exclusão, obtiveram-se 9 artigos.

Resultados: A suplementação da vitamina D nos doentes com COVID-19 reduziu o tempo de internamento hospitalar, a necessidade de admissão nos cuidados intensivos e de ventilação mecânica invasiva, acelerando o processo de recuperação. Estudos relatam os possíveis benefícios da suplementação como medida profilática de forma a proteger contra futuras infeções víricas.

Conclusões: A evidência científica existente demonstra resultados promissores do papel da vitamina D nos doentes com COVID-19 na redução da gravidade da doença e na melhoria do prognóstico. São necessários mais estudos na população humana para suportar esta hipótese e comprovar a eficácia.

 

A infeção pelo vírus SARS-CoV-2, identificada pela primeira vez na China, rapidamente se difundiu a nível mundial. A fim de diminuir a propagação desta doença infeciosa, declarada como uma pandemia, foram decretados confinamentos domiciliários um pouco por todo o mundo. Estes confinamentos alteraram os hábitos alimentares da população, na maioria dos casos para pior, verificando-se um aumento no consumo de alimentos menos saudáveis. Este fator e a diminuição da atividade física verificada, podem culminar no desenvolvimento de patologias metabólicas, cardiovasculares e outras. Assim, é essencial alertar as populações neste sentido e educá-las para melhores escolhas alimentares.

Introdução: Os idosos em estruturas residenciais apresentam elevada prevalência de desnutrição, fragilidade e sarcopenia, condições que podem ter implicações negativas na atual pandemia COVID-19.

Objetivos: Proceder a uma revisão de escopo de forma a mapear a evidência da desnutrição, fragilidade e sarcopenia como fator prognóstico da COVID-19 em idosos institucionalizados.

Metodologia: Análise da literatura publicada entre maio e setembro de 2020 na base de dados eletrónica Pubmed, utilizando os termos “covid 19”, “nursing homes”, “malnutrition”, “frailty” e “sarcopenia”, de acordo com as recomendações PRISMA-ScR.

Resultados: Dos 14 estudos selecionados, 3 analisaram o prognóstico da COVID-19 em estruturas residenciais para idosos, 2 investigaram a progressão da COVID-19 em idosos com desnutrição e 9 com fragilidade. A revisão da literatura sugere os funcionários como vetor importante na transmissão e propagação do coronavírus em idosos institucionalizados e a elevada mortalidade parece estar relacionada com complicações da própria doença. Os idosos em risco nutricional apresentam piores outcomes clínicos enquanto os frágeis são associados a outras causas de morte não relacionadas com complicações da COVID-19. Desconhecem–se as implicações da sarcopenia na evolução da COVID-19.

Conclusões: A evidência atual é insuficiente para se estabelecer uma associação entre a desnutrição, fragilidade e sarcopenia e o prognóstico da infeção pelo novo coronavírus em idosos institucionalizados. No entanto, a recente pandemia veio reforçar a vulnerabilidade desta população e a necessidade da avaliação e intervenção nutricional nos cuidados geriátricos, sendo também necessária mais investigação que relacione a nutrição e a COVID-19 em estruturas residenciais para pessoas idosas.

Introdução: A Insegurança Alimentar constitui um problema grave de saúde pública, que pode ser agravado com as medidas de contenção social impostas durante a pandemia COVID-19.

Objetivos: Determinar a prevalência de Insegurança Alimentar e investigar determinantes associados, na Região Autónoma da Madeira, durante o confinamento geral na pandemia COVID-19.

Metodologia: Estudo transversal, com aplicação de um questionário por entrevista telefónica assistida por computador a 351 adultos, entre 22-29 de maio 2020. A presença de Insegurança Alimentar foi avaliada através de uma escala de 2 itens utilizada pela Direção-Geral da Saúde. A análise multivariada (regressão logística, método Forward Wald) foi usada para estudar a associação entre Insegurança Alimentar e variáveis demográficas, socioeconómicas e de estilo de vida.

Resultados: A prevalência de Insegurança Alimentar entre os agregados familiares da Região Autónoma da Madeira foi de 33,6%. No modelo ajustado (para tamanho do agregado familiar, perceção da situação financeira e alteração dos hábitos alimentares) a perceção de uma situação financeira suficiente [OR=4,289, IC 95% (1,584-11,612)] ou difícil/muito difícil [OR=28,561, IC 95% (10,063-81,060)] foi associada a maior probabilidade de reportar Insegurança Alimentar. Os inquiridos que partilhavam casa com três ou mais pessoas apresentaram probabilidade quase 2 vezes maior de Insegurança Alimentar [OR ajustado=1,983; IC 95% (1,083-3,632)], do que aqueles que viviam sozinhos ou partilhavam casa com apenas mais uma pessoa. A alteração de hábitos alimentares, durante o período de contenção, associou-se positivamente ao risco de Insegurança Alimentar [OR ajustado=2,242; IC 95% (1,288-3,902)].

Conclusões: Na Região Autónoma da Madeira, 33,6% das famílias foram identificadas em risco de Insegurança Alimentar, durante o período de confinamento pela COVID-19. No futuro, em contextos semelhantes, especial atenção deve ser dada a famílias em situação financeira mais frágil, com agregados familiares de maiores dimensões e com tendência para alterar os seus hábitos alimentares.

Introdução: Na pandemia de COVID-19, os idosos são considerados uma população de risco acrescido. Situação que se agrava na presença de desnutrição e sarcopenia. A vitamina D pode ser uma potencial adjuvante na prevenção e tratamento de doentes com infeções virais respiratórias, que normalmente apresentam baixos níveis de vitamina D. A suplementação de vitamina D em doentes com COVID-19, poderá ser um passo importante na prevenção e disseminação da infeção.

Objetivos: Analisar a evidência sobre a suplementação de vitamina D em idosos com desnutrição, sarcopenia e COVID-19.

Metodologia: Analisar a literatura publicada na base de dados eletrónica Pubmed nos últimos 5 anos, utilizando as palavras-chave “covid-19”, “elderly”, “malnutrition”, “sarcopenia” e “vitamin D”. A pesquisa foi realizada entre abril e maio de 2020.

Resultados: A suplementação de vitamina D, em caso de carência, demonstrou um efeito benéfico na melhoria da função muscular e na redução da severidade e mortalidade por infeções respiratórias. Quando associada à proteína e ao exercício físico, apresentou um possível efeito sinérgico na quantidade e qualidade muscular. Em doentes com COVID-19, nas quais foram relatadas concentrações mais baixas de 25 (OH) D, verificou-se um aumento da mortalidade e da incidência da doença.

Conclusões: A evidência existente é pouco conclusiva e não é suficiente para estabelecer uma relação direta entre a deficiência de vitamina D e o risco de incorrer em COVID-19 no futuro. São necessários ensaios clínicos na população humana para estudar essa hipótese e inclusive perceber a influência da malnutrição e sarcopenia.