Sabe-se que pessoas idosas hospitalizadas requererem maiores cuidados durante o período de hospitalização, visto que o próprio processo de envelhecimento provoca alterações em diversos sistemas fisiológicos, com consequente redução na ingestão alimentar e massa magra. A hospitalização pode representar um fator de risco para o declínio funcional de pessoas idosas, levando essa população a apresentar maiores riscos para o desenvolvimento de quadros de desnutrição. O objetivo da presente pesquisa foi analisar a relação entre a aceitação alimentar e o desenvolvimento de complicações intra-hospitalares em pessoas idosas hospitalizadas e seus impactos durante o curso do internamento. Trata-se de uma revisão de literatura, com análise de artigos indexados em bases de dados como Scielo e Pubmed, nos idiomas português e inglês. A desnutrição hospitalar pode ser desencadeada por diversos fatores, como baixa ingestão alimentar e doenças associadas, podendo resultar em um maior tempo de hospitalização, afetando diretamente o funcionamento do organismo e deixando-o mais suscetível à instalação de novas infeções e ao desenvolvimento de processos inflamatórios. Destacam-se diversas causas que podem interferir na ingestão alimentar, desde o sabor das refeições até a presença de patologias de base, exigindo a implementação de estratégias a fim de melhorar tal aceitação. Nota-se que esta condição ainda se apresenta como grande fator de risco durante o período de internamento, pois associa-se a um pior prognóstico em pessoas idosas. Portanto, os cuidados nutricionais devem assumir uma importante posição no processo de melhoria da qualidade de vida e do quadro de saúde de tais pacientes.

Homem de 81 anos, com pneumonia por COVID-19 confirmada, foi hospitalizado por falência respiratória hipoxémica e hipernatrémia hipovolémica grave. Durante a abordagem pré-hospitalar, foi medicado para taquicardia supraventricular com adenosina, com sucesso. No Serviço de Urgência apresentou-se com alteração do estado de consciência alternando prostração com agitação, se estimulado. Estudos subsequentes confirmaram infeção por SARS-CoV2 e pneumonia COVID-19 (radiografia de tórax) com insuficiência respiratória hipoxémica. Estudos analíticos indicavam falência renal com hipernatrémia hipovolémica. Em enfermaria dedicada a COVID-19, foram iniciadas medidas de conforto, mas o doente manteve-se estável. Assim, foi colocada Sonda nasogástrica para correção da desidratação. Ao mesmo tempo, o doente foi identificado como tendo elevado risco nutricional, garantindo avaliação por equipa de nutricionistas, seguindo-se implementação de plano nutricional ajustado. A integração atempada de uma intervenção nutricional proativa e especializada com os cuidados clínicos fizeram a condição do doente melhorar progressivamente.

Apesar de todas as restrições e desafios clínicos no cuidado a doentes idosos com COVID-19, a identificação do risco e monitorização nutricional, em articulação multidisciplinar, permanece essencial e, conforme é descrita neste caso, permitiu a implementação atempada de hidratação e medidas nutricionais que contribuíram para a resposta clínica favorável. O doente apresentou uma melhoria até ao estado habitual e teve alta para o lar de onde tinha vindo, onde ainda hoje reside, em boa saúde sem perda de função. Este caso demonstra a importância e necessidade de implementação e integração de cuidados nutricionais nas hospitalizações por COVID-19.

É fundamental adequar a evolução ponderal das gestantes, tendo em conta o índice de massa corporal anterior à gravidez e o número de fetos. O aumento de peso inadequado durante a gestação e o estado nutricional das grávidas antes da conceção podem estar associados a riscos para a saúde materna e infantil. A avaliação destes aspetos é fundamental para a definição de estratégias de atuação.

Foi objetivo avaliar o estado nutricional de mulheres do Faial (Açores, Portugal) antes da conceção e o seu aumento de peso durante a gravidez.

Este estudo prospetivo avaliou o estado nutricional anterior à conceção e o aumento de peso durante a gravidez de 34 mulheres com média de idade de 31 anos (dp = 4). Metade da amostra encontrava-se normoponderal antes da conceção e as restantes participantes apresentavam excesso de peso. Verificou-se que 64,7% da amostra teve um inadequado aumento de peso na gestação, maioritariamente por défice. O aumento de peso durante a gestação não diferiu significativamente entre classes de índice de massa corporal prévio.

Para a melhoria do estado ponderal pré-gestacional recomenda-se um maior foco na educação para a saúde sobre a adoção de estilos de vida saudáveis nas consultas de planeamento familiar. Tendo em conta a elevada inadequação do aumento ponderal na gestação, a evolução ponderal deverá ser monitorizada com maior regularidade, de modo a que o aumento de peso não seja inferior ou superior ao desejável. Uma vez que as recomendações para o aumento de peso durante a gravidez têm em conta o índice de massa corporal prévio, e dada a elevada prevalência de excesso de peso encontrada, esta monitorização deve prolongar-se no período pós-parto.

O adequado estado nutricional da mulher antes da conceção e da grávida são fundamentais para otimizar a saúde da própria e do bebé e para diminuir o risco de complicações durante a gestação, pelo que se recomenda a intervenção do nutricionista nestas fases.

Introdução: A insuficiência cardíaca está associada a um grande número de fatores de risco, dentre eles a obesidade. Os fatores de risco modificáveis podem ser gerenciados para diminuir significativamente o risco para desenvolver a doença, como a investigação de biomarcadores metabólicos, como a vitamina D. No entanto, há poucas evidências nas diretrizes sobre a associação da vitamina D como fator de risco na população com insuficiência cardíaca.

Objetivos: Avaliar níveis de vitamina D como fator de risco associado à obesidade em pacientes com insuficiência cardíaca.

Metodologia: Estudo observacional, prospetivo, tipo caso-controlo, realizado em uma clínica multiprofissional especializada em insuficiência cardíaca. O diagnóstico do estado nutricional foi realizado através do questionário validado miniavaliação nutricional (MAN) e antropometria. A coleta de sangue foi realizada seguindo as recomendações de biossegurança. A distribuição dos dados foi avaliada pelos testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Foi considerado significativo valor de p<0,05. A análise estatística foi feita através do Software Statistical Package for the Social Sciences, versão 20.0.

Resultados: Avaliou-se 76 pacientes, 51,3% com classe funcional II (New York Heart Association). Em relação ao estado nutricional 58% apresentavam score de risco (MAN) e 75,1% com sobrepeso e obesidade; os níveis séricos de vitamina D são significativamente menores no grupo com obesidade (80%; p=0,003); as medidas de circunferência de cintura são significativamente maiores no grupo com obesidade (p=0,020); os scores do risco nutricional (MAN) são significativamente maiores no grupo com obesidade (p<0,001). A insuficiência de vitamina D aumentou a chance para desenvolver obesidade (OR:4,5; IC95%:[1,1-19,2]).

Conclusões: A investigação permitiu detetar que a insuficiência de vitamina D aumenta a chance para desenvolver obesidade em pacientes com insuficiência cardíaca.

Este artigo apresenta, de forma simples, a definição e fundamentos da pesquisa qualitativa, de forma a introduzir a temática da importância desta metodologia de investigação, para as ciências da nutrição e alimentação e os nutricionistas. Ao contrário da metodologia quantitativa, a pesquisa qualitativa é realizada através de uma abordagem interpretativa e naturalística do tema de estudo. Com o foco nos significados atribuídos pelos indivíduos ao objeto de estudo, a investigação qualitativa oferece um percurso científico propício à compreensão de um fenómeno tão complexo como o alimentar e nutricional. Não obstante o atual reconhecimento científico da importância da evidência qualitativa, a utilização desta metodologia é ainda muito reduzida e/ou pouco valorizada. O estabelecimento de mecanismos de educação e formação nesta temática e a elaboração de processos de colaboração interdisciplinar na realização de estudos científicos tornam-se assim vitais para o desenvolvimento da utilização desta metodologia, na área das ciências da nutrição e alimentação.

Introdução: A malnutrição constitui um dos principais determinantes de doença e diminuição da qualidade de vida. Um mau estado nutricional prejudica a saúde física e psicológica, predispondo ao desenvolvimento de doenças, condicionando negativamente o seu prognóstico.

Objetivos: Conhecer o estado nutricional e nivel de independência dos idosos inscritos no centro de saúde de Santa Maria de Bragança, identificando a relação existente entre as duas variáveis.

Metodologia: A partir de uma população de 5373 idosos inscritos no centro de saúde de Santa Maria em Bragança estudou-se uma amostra proporcional estratificada em função do sexo e faixa etária de 385 idosos. Desenvolveu-se um estudo quantitativo, observacional, analítico, transversal. Para a colheita de dados utilizou-se um formulário que incluía o Mini Nutritional Assessment e o Índice de Barthel.

Resultados: Como principais resultados verifica-se que 86,8% dos utentes é funcionalmente independente e 13,3% apresentam algum tipo de dependência. Através da aplicação do Mini Nutritional Assessment identificam-se 0,8% dos idosos em estado desnutrido e 24,16% em risco de desnutrição. Constata-se ainda, que os idosos independentes apresentam maior probabilidade de estarem em estado nutricional normal face aos idosos com dependência ligeira a moderada (p <0,001).

Conclusões: Com os resultados deste estudo constata-se que o estado nutricional segundo o Mini Nutritional Assessment está significativamente associado ao nível de independência desta população de idosos. Tendo em conta o número elevado de idosos em Portugal, salienta-se a importância de rastrear o estado nutricional e as suas condicionantes, como parte integrante da avaliação multidimensional e consequente intervenção nesta camada da população tendo em mente a melhoria da sua qualidade de vida.

O Projeto Nutrition UP 65 tem como objetivo a redução de desigualdades nutricionais nas pessoas idosas em Portugal, através da melhoria do conhecimento do seu estado nutricional e da capacitação de profissionais de saúde para lidar com o estado nutricional de pessoas idosas. Para atingir esse objetivo, foi realizado um estudo de âmbito nacional com uma amostra de 1500 pessoas com ≥ 65 anos, representativa da estrutura da população idosa portuguesa quanto ao sexo, idade, região geográfica e nível educacional. Os resultados do estudo permitiram a identificação das necessidades educativas dos profissionais de saúde, pessoas idosas, cuidadores e outros agentes sociais. Foi organizada uma rede de voluntários entre estudantes e alumni da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, com o objetivo de ministrar formação em alimentação saudável e preparação de alimentos a pessoas idosas, cuidadores e preparadores de alimentos.

Entre janeiro de 2016 e abril de 2017, inscreveram-se 56 voluntários, realizaram-se 48 sessões a 1654 pessoas idosas e a 257 cuidadores e preparadores de alimentos em 44 instituições. Distribuíram-se cerca de 3500 materiais a diversos públicos-alvo. A avaliação dos resultados da rede foi efetuada qualitativamente através da análise dos relatórios dos voluntários. A maioria (63%) reportou dificuldades de aceitação das formações por parte das instituições contactadas e, por outro lado, 88% referiram como aspeto mais positivo a interação com as pessoas idosas. A análise da motivação dos voluntários através dos formulários de inscrição revelou que a maior parte tinha uma motivação profissional (65,4%) e que a motivação pessoal estava inversamente relacionada com o número de sessões conduzidas (p<0,05).

Os resultados sugerem que esta iniciativa poderá ser facilmente replicável e exequível para intervenções comunitárias a curto prazo.

Introdução: As crianças admitidas no hospital têm um elevado risco de desenvolver desnutrição, especialmente as que possuem uma doença subjacente. Assim, o rastreio do risco nutricional, quando aplicado precoce e atempadamente, permite ao profissional de saúde realizar uma abordagem nutricional adequada, prevenindo ou corrigindo a desnutrição, bem como possíveis complicações decorrentes de uma alteração do estado nutricional.

Objetivos: Identificar o risco nutricional e caracterizar o estado nutricional das crianças internadas.

Metodologia: Realizou-se um estudo transversal, no período de 25 de maio a 23 de julho de 2015, constituído por 63 crianças, com idades compreendidas entre 1 e 17 anos completos. Procedeu-se à aplicação da ferramenta de rastreio STRONGkids e à recolha da altura e do peso e ao cálculo do Índice de Massa Corporal. De seguida, calcularam-se os z-scores do peso-para-estatura, estatura-para-idade, peso-para-idade e Índice de Massa Corporal, que foram comparados com os pontos de corte recomendados pela Organização Mundial da Saúde, de forma a avaliar a existência de desnutrição e caracterizar o estado nutricional no momento da admissão hospitalar.

Resultados: O rastreio da desnutrição evidenciou que 58,7% tinham um risco médio e 3,2% alto risco de desnutrição, porém apenas 7,7% destas é que estavam desnutridas. A prevalência de desnutrição foi de 6,3%, 65,1% eram crianças eutróficas e 33,3% tinham excesso de peso/obesidade.

Conclusões: O estado nutricional nem sempre se correlaciona com o risco nutricional atual. Efetivamente, no momento da admissão hospitalar, o estado nutricional pode ainda não se encontrar afetado, mesmo existindo elevado risco de desnutrição. Dessa forma, este rastreio é essencial e crucial para a vigilância do estado nutricional em doentes com risco de desnutrição.

Introdução: A população portuguesa está a envelhecer e pouco se sabe sobre o estado nutricional dos idosos. Além disso, os escassos dados disponíveis revelam que os profissionais de saúde, bem como os cuidadores, poderão beneficiar de conhecimentos avançados sobre nutrição.

Objetivos: Nutrition UP 65 tem como objetivos (1) melhorar o conhecimento sobre o estado nutricional dos idosos portugueses, especificamente sobre o estado de desnutrição, de sarcopenia, de fragilidade, de obesidade, de hidratação e de vitamina D, e (2) capacitar profissionais de saúde e cuidadores para lidarem com o estado nutricional das pessoas idosas.

Metodologia: Foi utilizado um método de amostragem por clusters, representando a estrutura populacional dos idosos portugueses para a idade, o sexo, o nível de escolaridade e a área regional (NUTS II). Recolheram-se dados sociodemográficos, clínicos e antropométricos, sobre o estado de hidratação e de vitamina D. Os profissionais de saúde e cuidadores receberam sessões educativas sobre nutrição para pessoas idosas.

Resultados: Recolheram-se dados sobre 1500 pessoas idosas, de dezembro de 2015 a junho de 2016. Os resultados serão divulgados a nível nacional e internacional.

Conclusões: Os dados do Projeto Nutrition UP 65 fornecerão evidência científica para a implementação de diretrizes nutricionais para monitorar o estado nutricional dos idosos portugueses. Os profissionais de saúde e cuidadores ficarão assim mais qualificados para responder a problemas de saúde relacionados com a nutrição.

A Insuficiência Cardíaca pode ser causada por qualquer patologia que afete o coração e, consequentemente, condicione a sua função diastólica ou sistólica. Apesar das melhorias que se têm vindo a verificar em termos de prognóstico, os números são ainda preocupantes e a prevalência permanece elevada, sobretudo em idosos. O estado nutricional tem-se revelado intimamente relacionado com o desenvolvimento e prognóstico desta patologia, verificando-se que um grande número de pacientes com Insuficiência Cardíaca avançada apresenta também desnutrição severa (caquexia cardíaca), associada a um aumento da morbilidade e da mortalidade. Por outro lado, a obesidade parece ter um efeito protetor nesta patologia, existindo numerosos estudos que comprovam a relação entre valores de Índice de Massa Corporal elevados e menor risco de mortalidade, quando comparados com indivíduos com valores de Índice de Massa Corporal mais baixos. No entanto, e apesar de ser o método mais utilizado para caracterizar o estado nutricional, o Índice de Massa Corporal não é um bom indicador da composição corporal no que respeita à distribuição de gordura, sendo este um fator fundamental a ser estudado nestes pacientes. Assim, para melhor compreender o papel do tecido adiposo na Insuficiência Cardíaca, é premente determinar o método que melhor se adequa à avaliação do estado nutricional destes pacientes e de que forma este pode influenciar o prognóstico da doença.