Introdução: A composição da microbiota intestinal tem sido cada vez mais apontada como um fator preponderante para a obesidade, nomeadamente a obesidade infantil, uma vez que a infância é um período crítico para o desenvolvimento das bactérias colonizadoras do intestino.

Objetivos: O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão narrativa, de forma a verificar as diferenças na composição da microbiota intestinal das crianças e adolescentes com excesso de peso/obesidade comparativamente às normoponderais, através da análise de artigos científicos, de intervenção e de observação, com foco no papel da microbiota intestinal na idade pediátrica.

Metodologia: Foi efetuada uma recolha e análise de artigos, sendo que foram selecionados 14 artigos para comporem esta revisão.

Resultados: O aumento do rácio firmicutes/bacteroidetes está associado ao aumento do peso/índice de massa corporal infantil. Verifica-se também que tanto a diversidade como a quantidade total de bactérias no intestino, variam de acordo com o peso corporal e que fatores como a dieta, suplementação em probióticos e antibióticos podem ter um papel preponderante na formação da microbiota intestinal infantil.

Conclusões: A informação analisada sugere que existe uma associação entre a composição da microbiota intestinal e o peso corporal. Contudo, ainda são poucos os estudos existentes para poder reconhecer de forma clara e precisa o papel da microbiota intestinal na etiologia da obesidade infantil.

Introdução: Em Portugal, a Obesidade destaca-se como a doença mais prevalente na infância, com 1 em cada 3 crianças com excesso de peso, ainda que pareça observar-se uma tendência invertida na última década. Programas contínuos, de base comunitária ao nível local parecem responder de forma eficaz a esta problemática. O MUN-SI surgiu em 2008, como um programa de promoção da saúde infantil em municípios com o objetivo de retardar o excesso de peso infantil de forma interativa.

Objetivos: Avaliar o impacto do MUN-SI no estado nutricional, a mudança comportamental e de hábitos alimentares, a aquisição de conhecimentos, a adesão à Dieta Mediterrânica e a prática de atividade física, em crianças dos 6 aos 10 anos, entre 2008 e 2018, no Município de Oeiras.

Metodologia: O MUN-Si intervém através de uma matriz de 3 parâmetros: promover hábitos alimentares saudáveis de acordo com a temática a abordar, promover a prática de atividade física regular e avaliar o estado nutricional infantil, em escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico. As sessões de intervenção lúdico-educativas em sala de aula foram implementadas por nutricionistas treinados e incluíram: diagnóstico inicial e sensibilização para a temática, intervenção motivacional e avaliação do programa com participação ativa da família. Os comportamentos alimentares e prática de atividade física foram avaliados através de um questionário à família. O estado nutricional infantil foi classificado pelos critérios da Organização Mundial da Saúde, 2007.

Resultados: Registou-se uma mudança comportamental positiva na preferência de inclusão de hortofrutícolas nos lanches (+2,3% em 2015/2016) e ao pequeno-almoço (+16% em 2014/2015 e +11,9% em 2017/2018). A aquisição de conhecimentos sobre a Dieta Mediterrânica foi verificada em +12,1% a 21,1%, entre 2016 e 2019 e a adesão à Dieta Mediterrânica aumentou em 20,9%, em 2016/2017. Houve um aumento na prática de atividade física regular (11 a 15%) e uma redução de 11,2% na prevalência excesso de peso (35,5% para 24,3%) e 10,3% de obesidade (16,7% para 6,4%) (p<0,005).

Conclusões: Os resultados do MUN-SI sugerem que programas de base comunitária multidisciplinares integrados e aplicados continuamente ao nível local, têm efeito na adoção de estilos de vida mais saudáveis e na diminuição da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil.

Introdução: A obesidade infantil é um problema de Saúde Pública, para o qual os hábitos alimentares inadequados e a insuficiente prática de atividade física são fatores de risco e, atualmente, frequentes na população infantil.

Objetivos: Este trabalho pretendeu avaliar a evolução ponderal e dos comportamentos de saúde de um grupo de crianças e adolescentes com pré-obesidade ou obesidade, utentes de uma Unidade de Cuidados de Saúde Primários portuguesa, seguidos em consulta de Nutrição. Avaliaram-se, também, alguns comportamentos de saúde nos respetivos cuidadores e averiguou-se se existia associação entre os comportamentos de ambos.

Metodologia: Este estudo combinou uma vertente retrospetiva, com recolha de dados antropométricos e de comportamentos de saúde, a partir do processo clínico do utente e uma vertente transversal, com recolha de informação durante a consulta em que o participante aceitou pertencer ao estudo. Os cuidadores responderam a um questionário sobre os seus hábitos alimentares e de atividade física.

Resultados: As 36 crianças e jovens incluídos no estudo (44,4% do sexo feminino; idade mediana de 14 anos) estavam a ser acompanhados, em mediana, há 3,6 anos, tendo o Z-Score para o Índice de Massa Corporal mediano descido significativamente desde a primeira consulta até à avaliação presente (2,70 vs. 2,18; p<0,001). Relativamente à aquisição de hábitos salutogénicos, a totalidade dos participantes passaram a tomar pequeno-almoço (no início faziam 91,7%), aumentou a proporção de crianças e adolescentes que ingeriam hortícolas ao almoço diariamente (30,6% vs. 69,4%), bem como de crianças que passaram a comer três peças de fruta por dia (11,1% vs. 33,3%). Os adolescentes eram os que mais praticavam o número de horas de atividade física recomendado. Não se observaram associações entre os hábitos dos cuidadores e os dos respetivos educandos.

Conclusões: O acompanhamento de crianças e adolescentes com sobrecarga ponderal em consulta de Nutrição, nos Cuidados de Saúde Primários, mostrou-se eficaz na aquisição de hábitos salutogénicos e melhoria do estado nutricional.

É na infância que se formam os comportamentos alimentares, sendo os pais agentes cruciais neste processo. Os pais adotam práticas de controlo alimentar que influenciam a alimentação das crianças, no sentido de aumentar ou diminuir a sua ingestão, podendo desta forma comprometer o seu normal desenvolvimento ponderal.

Com esta revisão pretende-se abordar as diferentes práticas parentais de controlo alimentar, centradas nos seus efeitos ao nível individual, identificando os instrumentos disponíveis para a sua avaliação e os vários estudos conduzidos para estabelecer uma associação entre estas práticas e o peso da criança.

Para a condução desta revisão foi realizada uma pesquisa na base de dados PubMed®, complementada por uma pesquisa em snowball. Incluíram-se estudos longitudinais (observacionais ou experimentais) que abordassem a relação das práticas parentais de controlo alimentar com a ingestão ou peso/índice de massa corporal da criança em idade pré-escolar.

As práticas parentais de controlo alimentar de crianças em idades precoces são frequentemente avaliadas através do Child Feeding Questionnaire, que inclui três domínios que incidem sobre a pressão para comer, a restrição e a monitorização. A associação entre as práticas parentais e o peso da criança tem sido inconsistente na literatura, dada a natureza transversal de muitos estudos, o que limita a avaliação da direção das associações, já que este efeito pode ser bidirecional, ou seja as práticas podem condicionar longitudinalmente o peso da criança, mas também podem ser exercidas em reação ao peso da criança. De um modo geral, a pressão para comer parece diminuir o peso da criança, enquanto a restrição alimentar parece aumentar o peso infantil. Ambas as práticas de controlo alimentar apresentam efeitos bidirecionais. Para a prática da monitorização, os resultados são ainda inconclusivos. O controlo encoberto parece associar-se positivamente com o peso da criança e o controlo explícito mostra uma associação negativa.

O conhecimento acerca das práticas parentais de controlo alimentar e a sua complexa associação com o peso da criança pode servir de suporte para a implementação com êxito de programas de intervenção para prevenir e tratar a obesidade infantil, pelo que deve ser futuramente valorizado.