Introdução: Os hábitos alimentares são uma das principais causas modificáveis de doenças crónicas não transmissíveis. A Dieta Mediterrânica é conhecida por ser um padrão alimentar protetor da saúde e sustentável. Nas últimas décadas, Portugal, tem-se distanciado deste padrão alimentar e aumentado o consumo de alimentos ultraprocessados.

Objetivos: Avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico, o consumo de alimentos ultraprocessados e fatores associados, em crianças e adolescentes.

Metodologia: Estudo transversal, observacional descritivo. Aplicou-se um questionário, que incluía a versão portuguesa do Índice KIDMED e um Índice de consumo de alimentos ultraprocessados construído para este projeto, a uma amostra de conveniência de crianças e adolescentes com idades entre os 10 e os 19 anos. Os dados foram tratados e analisados no programa estatístico SPSS® com um nível de confiança de 95%.

Resultados: A amostra incluiu 506 participantes, sendo 54,3% do sexo feminino, com uma idade média de 14,1 anos (dp = 2,5). A adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico correlacionou-se com o consumo de alimentos ultraprocessados (r = 0,447; p < 0,001). Verificou-se uma elevada adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico por 47,8% dos participantes, média adesão por 47,2% e baixa adesão por 4,9%, sendo mais elevada nos indivíduos fisicamente ativos (η2p = 0,012; p = 0,021), nos que têm hábitos de sono à semana adequados (η2p = 0,009; p = 0,045) e nos mais novos (r = -0,112; p = 0,003). O consumo de alimentos ultraprocessados revelou uma pontuação média de 21,8 (dp = 4,8), sendo o sexo masculino (η2p = 0,031; p < 0,001) e os que passam mais tempo em frente ao ecrã (η2p = 0,170; p = 0,005) quem mais consome este tipo de alimentos.

Conclusões: Observa-se a necessidade de intervir ao nível da promoção e difusão da Dieta Mediterrânica, uma vez que parece ter impacto na diminuição do consumo de alimentos ultraprocessados, de promover a atividade física, estimular hábitos de sono adequados e mitigar o tempo que as crianças e adolescentes passam em frente aos ecrãs.

A insustentabilidade dos sistemas agroalimentares tem levado ao esgotamento dos recursos do nosso planeta. O Pacto Ecológico Europeu, proposto pela Comissão Europeia, concomitantemente com a Estratégia Do Prado ao Prato, estabeleceram já metas para a transição ecológica. Alinhados com estas propostas surgem, na indústria alimentar, projetos de sistemas de rotulagem
ambiental cujo objetivo é comunicar a sustentabilidade, perante a sociedade de consumo, contribuindo para a consciencialização do impacto ambiental dos produtos no mercado. O presente estudo aborda um tema relevante e atual: visa avaliar dois recentes e promissores sistemas de rotulagem ambiental – Eco-Score e Planet-Score –, estudando a sua viabilidade e aplicabilidade na indústria alimentar, considerando as metodologias utilizadas, os desafios da sua implementação e o impacto nas escolhas dos consumidores. Após o levantamento das propostas legislativas, documentos e pareceres governamentais europeus relativos à temática da sustentabilidade, no portal da Comissão Europeia, foi desenvolvida uma análise criteriosa dos dois sistemas de rotulagem e metodologias da avaliação do desempenho ambiental (Análise do Ciclo de Vida, método PEF e bases de dados), através da consulta direta de informação nas páginas oficiais destes sistemas de rotulagem e ainda de relatórios, documentos e artigos publicados por entidades e especialistas que estudam a sustentabilidade dos sistemas alimentares. Foi ainda analisada a relação do ecolabelling com as escolhas dos consumidores. Apesar das limitações quer a nível de desarmonização legal, quer a nível do rigor científico das metodologias de cálculo do impacto ecológico, sujeitas ainda a revisão e melhoria, o cenário de transição para um mundo mais verde, pela criação destes sistemas de rotulagem, mostra-se bastante otimista.

Introdução: O desperdício alimentar tem vindo a tornar-se uma prioridade política nos últimos anos devido ao seu impacto na economia, meio ambiente e estado nutricional e de saúde das populações. No contexto escolar, a avaliação do desperdício alimentar é fulcral, uma vez que pode refletir um consumo alimentar inadequado por parte das crianças, comprometendo a ingestão nutricional e desenvolvimento infantil saudável.

Objetivos: Avaliar e caraterizar o desperdício alimentar, sob a forma de sobras e restos, produzido nas refeições servidas ao almoço, durante três dias não consecutivos nos refeitórios de cinco escolas públicas do ensino básico pré-escolar e 1.º ciclo (EB1/JI), localizadas no Município de Faro.

Metodologia: Os alimentos produzidos e desperdiçados foram separados e pesados por componentes agregados. A amostra foi obtida através de uma seleção não probabilística e de conveniência. Estratificaram-se as escolas como rurais ou urbanas, tendo em conta a sua localização geográfica. O desperdício alimentar foi classificado de acordo com o resultado do Índice de Sobras e Índice de Restos, utilizando-se as classificações de Vaz (2006) e Aragão (2005), respetivamente.

Resultados: Verificou-se que o valor médio de desperdício alimentar total foi de 40,2% ± 7,3% e que os valores médios totais do Índice de Sobras e Índice de Restos excederam os limites aceitáveis (15,2% ± 7,3% e 25,0% ± 5,7%, respetivamente). Considerando os componentes, os hortícolas foram os mais desperdiçados em ambas as zonas (71,2% ± 31,6%, urbana; 98,7% ± 13,7%, rural). Observou-se que o consumo de hortícolas foi significativamente inferior nas escolas da zona rural quando comparado ao seu consumo nas escolas da zona urbana (1,3% ± 5,6% e 28,7% ± 31,2%, respetivamente; p = 0,039).

Conclusões: A necessidade de implementação de medidas corretivas com vista à redução do desperdício alimentar é urgente, através da formação profissional dos trabalhadores dos refeitórios escolares, da melhoria das ementas e da promoção do consumo alimentar das crianças, especialmente no que diz respeito aos alimentos do grupo dos hortícolas.

Permanecem desafios para melhorar o estado nutricional das populações e garantir padrões de produção e consumo sustentáveis. A escala Sustainable and Healthy Eating Behaviors avalia comportamentos alimentares saudáveis e sustentáveis em jovens adultos polacos. No nosso melhor conhecimento, em Portugal, desconhece-se a existência de um instrumento que avalie estes comportamentos, de forma holística, em jovens adultos universitários. Como tal, o objetivo do estudo consistiu em traduzir e adaptar transculturalmente esta escala para esta população. Após obtenção da versão portuguesa da escala, através da tradução e retrotradução, procedeu-se à sua adaptação transcultural, com a participação de 30 jovens adultos, numa entrevista semiestruturada, com a aplicação direta da versão preliminar da escala. Depois, foram realizadas adaptações às afirmações da escala, que tinham suscitado problemas de compreensão por parte dos universitários e como resultado das sugestões feitas pelo painel de especialistas. Obteve-se a versão final da escala em língua portuguesa, pelo que será possível caracterizar os comportamentos alimentares saudáveis e sustentáveis em universitários portugueses e avaliar o impacto de projetos de educação alimentar e de políticas alimentares nesta população.

O consumo humano de bolota em Portugal era frequente até meados dos anos 60, altura a partir da qual caiu em desuso. Na última década, tem-se constatado um ressurgir do interesse pela bolota para alimentação humana, verificando-se a sua incorporação em diversos produtos alimentares inovadores, embora continue a ser vista por grande parte da população como ração de gado suíno. Sendo um fruto silvestre edível muito abundante em Portugal e detentor de um elevado valor nutricional, acredita-se que a sua valorização para consumo humano pode ser positiva. Assim, foi conduzida uma revisão narrativa da literatura com o intuito de investigar o consumo humano de bolota em Portugal, a respetiva cadeia de processamento e o seu impacto na saúde. Para tal, efetuou-se uma pesquisa, limitada aos últimos dez anos nas bases de dados Medline (PubMed), ScienceDirectElsevierWeb of Science, Repositórios de Acesso Aberto e Google Académico.

Verificou-se que, apesar da sua variabilidade e limitação de estudos, o consumo de bolota poderá, pela sua atividade biológica e fitoquímica, traduzir-se em diversos benefícios para a saúde, se enquadrado numa dieta saudável. A cadeia de processamento dos seus diferentes produtos tem igualmente potencial para ser desenvolvida e otimizada. Assim, a valorização da bolota para consumo humano e consequente desenvolvimento da respetiva cadeia de valor, poderão contribuir para alimentar as gerações futuras de forma segura e sustentável.

Introdução: O setor da Alimentação Coletiva assumiu importância crescente e responsabilidade na ingestão alimentar da população. Além do impacto socioeconómico o setor da Alimentação Coletiva tem um forte impacto ambiental o que levou a que nos últimos anos tenham sido feitas diversas modificações no sentido de produzir refeições de forma mais sustentável. As preocupações têm-se centrado na eficiência dos equipamentos, uso de materiais reutilizáveis, compra de produtos locais, redução da utilização de alimentos processados e com múltiplas embalagens, separação ecológica de resíduos e estratégias de redução do desperdício alimentar.

Objetivos: Este estudo tem como objetivo avaliar o impacto da implementação das medidas de contingência para a pandemia do Covid 19 nas práticas ambientais dos serviços de Alimentação Coletiva no território português.

Metodologia: A amostra foi obtida por conveniência através de contacto com serviços de Alimentação Coletiva a solicitar o preenchimento de um questionário incluindo perguntas de escolha múltipla e respostas abertas.

Resultados: Obteve-se uma amostra de 139 participantes. Os resultados evidenciam uma diminuição do número de refeições servidas, acompanhada por um aumento substantial da quantidade de materiais descartáveis, tais como pratos, toalhas de papel, sacos, embalagens, tais como embalagens individuais para talheres, pão e fruta e material de proteção individual e produtos de higiene (mascaras faciais, viseiras e desinfetante das mãos).

Conclusões: Este estudo evidencia um retrocesso severo no setor de Alimentação Coletiva como resultado da implementação das medidas de contingência para o Covid 19. Os decisores politicos devem avaliar as medidas adotadas que ainda estão em vigor, manter as que se justificam e se mostraram eficazes e positivas e abandonar ou aliviar as desnecessárias. Outras medidas como o reforço dos procedimentos higio sanitários devem ser mantidos para garantir a segurança alimentar e ambiental e a confiança do consumidor nos estabelecimentos de Alimentação Coletiva.

Introdução: O nutricionista é um profissional de saúde que entende o contexto em que a nutrição e a alimentação se processam, sendo competente tecnicamente, crítico e comprometido com a realidade existente. Questões relacionadas com sustentabilidade alimentar aplicam-se a todas as áreas da nutrição e dietética, com particular enfoque na área da alimentação coletiva e restauração sendo preciso valorizar as atribuições e contribuições do nutricionista na promoção de um futuro de qualidade.

Objetivos: Descrever a perceção dos nutricionistas que exercem atividade na área da alimentação coletiva e restauração sobre a sua atuação na promoção da sustentabilidade alimentar.

Metodologia: Estudo transversal, realizado por inquirição da população-alvo com um questionário online, através de uma técnica de amostragem não aleatória selecionada por conveniência. A amostra deste estudo é composta por nutricionistas, residentes em Portugal e a exercer atualmente na área da nutrição. Os dados sumarizaram-se através de frequências absolutas e relativas, e através de média, desvio-padrão, mediana e amplitude interquartil. Utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para analisar a adesão das variáveis em estudo à distribuição normal e, conforme os resultados, utilizou-se o teste de Mann-Whitney para comparação entre grupos.

Resultados: Dos 115 participantes, 48,7% consideram totalmente importante a promoção da sustentabilidade alimentar na sua atuação e 46,1% concordam que podem melhorar a sua ação. Os conceitos que mais relacionam com a sustentabilidade alimentar são a redução do desperdício alimentar, preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. As principais ações praticadas são a promoção da Dieta Mediterrânica e redução do desperdício alimentar. Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre as dificuldades e ações dos nutricionistas que exercem atividade em alimentação coletiva e os que não o fazem.

Conclusões: Os resultados demonstram que os participantes acreditam na sua capacidade para colocar ações em prática e reforça a necessidade de reconhecer e capacitar os nutricionistas como importantes agentes promotores da sustentabilidade alimentar.