Introdução: A insegurança alimentar caracteriza-se por qualquer falta de garantia do acesso regular a alimentos seguros e de valor nutricional adequado, podendo levar a hábitos alimentares inadequados e a um maior risco de obesidade.

Objetivos: Caracterizar e estudar as associações entre hábitos alimentares, estado estaturo-ponderal e insegurança alimentar num grupo populacional com auxílio económico para a compra de alimentos.

Metodologia: Estudo observacional de desenho transversal com aplicação de um questionário incluindo características sociodemográficas, estado estaturo-ponderal, hábitos alimentares, insegurança alimentar e géneros alimentícios adquiridos através do apoio social a cada representante dos agregados familiares beneficiários do apoio “+ Alimentação”, inserido no programa “Social +” do Município de Gondomar.

Resultados: De um total de 58 participantes, 70,7% (n = 41) era do sexo feminino e 58,6% (n = 34) vivia sozinho. Dos representantes dos agregados, 63,7% (n = 35) apresentavam excesso de peso e 77,6% (n = 45) uma adesão moderada a hábitos alimentares saudáveis, com 35,8% (n = 19) em contexto de insegurança alimentar grave. Um Índice de Massa Corporal mais elevado associou-se a maior insegurança alimentar (r = 0,380; p = 0,006) e participantes mais velhos apresentavam hábitos alimentares mais saudáveis (r = 0,348; p = 0,007).

Conclusões: Mais de metade da amostra apresentou uma adesão moderada a hábitos alimentares saudáveis. Um Índice de Massa Corporal mais elevado associou-se a maior nível de insegurança alimentar nos beneficiários de apoio social para a compra de alimentos.

O combate à obesidade, pela gravidade que esta acarreta na qualidade de vida dos indivíduos e na economia dos países, é uma prioridade em praticamente todos os Estados-Membro da União Europeia. Em Portugal, o Plano Nacional de Saúde 2020 indica, como uma das quatro principais metas a atingir, o controlo da incidência e da prevalência da pré-obesidade e da obesidade infantil, que neste momento, se encontra acima dos 30%. Apesar de em alguns países, desde 2006, se notar uma desaceleração do crescimento da obesidade, ainda nenhum reportou decréscimos significativos, nas últimas três décadas. A natureza multifatorial dos determinantes da obesidade, nomeadamente os externos ao sistema de saúde, como os fatores económicos e as desigualdades sociais, não permite uma solução isolada para este problema.

As autarquias têm vindo, gradualmente, a assumir responsabilidades, competências legais e capacidade técnica, que fazem com que possam assumir um papel central no combate à obesidade infantil. Só a este nível é possível atuar sobre diversos determinantes da doença de forma integrada, com autonomia e capacidade executiva e adaptada às especificidades sociodemográficas e geográficas locais. Esta atuação requer um modelo de ação onde cooperem profissionais de diversas áreas como o ambiente, a ação social, a educação, o urbanismo, a juventude e desporto, as atividades económicas, a cultura, a polícia municipal, entre outros.

Neste documento, propõe-se um modelo de intervenção para o combate à obesidade infantil ao nível das autarquias com a integração de diferentes áreas, desempenhando o Nutricionista um papel central na sua coordenação.