A Ama, profissional responsável por assegurar cuidados básicos a crianças, passou a estar enquadrada legalmente, em Portugal, a
partir do Decreto-lei n.º158/84. Este elencava requisitos e exigências para todos aqueles cujo objetivo fosse tornar a sua habitação
o local de permanência de quatro crianças, entre os três meses e os três anos. Em 2022, ao abrigo da legislação que regulamenta
as condições para a concretização da gratuitidade a confeção das refeições passa a ser da responsabilidade das Amas. Com
ausência de orientações específicas, sobretudo na seleção e confeção de alimentos, foi objetivo deste trabalho caracterizar atitudes,
crenças, valores e práticas relativas à alimentação, perceber o nível de conhecimento e compreender os fatores associados às
escolhas alimentares por parte das Amas. Para a recolha de dados, foi utilizada metodologia qualitativa com recurso a entrevista
semiestruturada, a partir de uma amostra de conveniência constituída por onze Amas. As entrevistadas, apresentaram atitudes,
práticas e experiências diversificadas, fato que poderá estar relacionado com a legislação em vigor à data do seu início de atividade.
Identificam como fontes privilegiadas de informação as educadoras de infância e os documentos que recebem nas formações.
A aquisição dos géneros ocorre ao fim de semana e consideram os gostos das crianças, a qualidade e o preço como fatores
determinantes na seleção. A confeção é feita no início ou final do dia e, na hora, aquecida. Oferecem essencialmente fruta à merenda
da manhã, o almoço inclui sopa e prato e a merenda da tarde está dependente dos alimentos enviados pelos pais. Foi percetível
que estas profissionais dispõem de parca orientação e legislação, estando a organização e planeamento de refeições dependente
dos seus conhecimentos e da capacidade e interesse para a pesquisa de informação.
Desenvolvimento de um Índice de Avaliação de Estilo de Vida Saudável de Crianças em Idade Escolar
Introdução: Avaliar o estilo de vida das crianças é fundamental para o desenvolvimento de políticas que previnam o surgimento das doenças não transmissíveis.
Objetivos: Desenvolver um índice reduzido de estilo de vida para crianças em idade escolar (6 aos 9 anos de idade) e caraterizar o seu estilo de vida.
Metodologia: O índice foi desenvolvido com base nos dados da avaliação aos 7 anos da coorte de nascimento Geração XXI (n=4336 crianças), agrupados em quatro domínios: frequência do consumo alimentar, comportamentos alimentares, atividade física (incluindo comportamentos sedentários) e duração do sono. O coeficiente alfa de Cronbach foi obtido para avaliar a consistência interna do índice. As associações entre as caraterísticas sociodemográficas, o ambiente físico da casa e a pontuação do índice foram avaliadas através de modelos de regressão linear, com a obtenção dos coeficientes β e respetivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).
Resultados: O índice final incluiu apenas dois domínios (consumo alimentar e atividade física) com um alfa de Cronbach de 0,52 e pontuação média de 3,6±2,8 (intervalo: -5 a 10). A idade materna (β=1,066; IC95%=1,045-1,087), a escolaridade materna (β=1,216; IC95%=1,186-1,246), ter uma casa com jardim (β=1,630; IC95%=1,304-2.037), acesso à internet (β=1,524; IC95%=1,086-2,139) e ter bicicleta (β=1,710; IC95%=1,086-2,694) associaram-se positivamente a um estilo de vida mais saudável das crianças.
Conclusões: O índice desenvolvido é um instrumento curto que pode ser usado para avaliar o estilo de vida geral em crianças em idade escolar. Melhores caraterísticas sociodemográficas maternas e um melhor ambiente físico da casa aumentam a probabilidade de as crianças terem um estilo de vida mais saudável.
Aceitação alimentar de pessoas idosas hospitalizadas e sua relação com o desenvolvimento de complicações intra-hospitalares – revisão da literatura
Sabe-se que pessoas idosas hospitalizadas requererem maiores cuidados durante o período de hospitalização, visto que o próprio processo de envelhecimento provoca alterações em diversos sistemas fisiológicos, com consequente redução na ingestão alimentar e massa magra. A hospitalização pode representar um fator de risco para o declínio funcional de pessoas idosas, levando essa população a apresentar maiores riscos para o desenvolvimento de quadros de desnutrição. O objetivo da presente pesquisa foi analisar a relação entre a aceitação alimentar e o desenvolvimento de complicações intra-hospitalares em pessoas idosas hospitalizadas e seus impactos durante o curso do internamento. Trata-se de uma revisão de literatura, com análise de artigos indexados em bases de dados como Scielo e Pubmed, nos idiomas português e inglês. A desnutrição hospitalar pode ser desencadeada por diversos fatores, como baixa ingestão alimentar e doenças associadas, podendo resultar em um maior tempo de hospitalização, afetando diretamente o funcionamento do organismo e deixando-o mais suscetível à instalação de novas infeções e ao desenvolvimento de processos inflamatórios. Destacam-se diversas causas que podem interferir na ingestão alimentar, desde o sabor das refeições até a presença de patologias de base, exigindo a implementação de estratégias a fim de melhorar tal aceitação. Nota-se que esta condição ainda se apresenta como grande fator de risco durante o período de internamento, pois associa-se a um pior prognóstico em pessoas idosas. Portanto, os cuidados nutricionais devem assumir uma importante posição no processo de melhoria da qualidade de vida e do quadro de saúde de tais pacientes.
Conhecimentos sobre alimentação e nutrição: estudo dos seus determinantes em estudantes do ensino superior da área das ciências da saúde
Introdução: Um nível adequado de conhecimentos sobre alimentação e nutrição pode ser um fator importante para suportar escolhas alimentares mais saudáveis.
Objetivos: Avaliar o nível de conhecimento sobre alimentação e nutrição de estudantes do 1.º ciclo de estudos da área das Ciências da Saúde e os seus fatores associados.
Metodologia: Foi conduzido um estudo observacional transversal, que incluiu estudantes do 1.º ano do Ensino Superior da área das Ciências da Saúde no ano letivo de 2019/2020 (n=150). Os dados foram recolhidos através de um questionário estruturado de autopreenchimento. Os conhecimentos sobre alimentação/nutrição foram avaliados através de uma escala previamente testada na população portuguesa. As variáveis categóricas foram comparadas através do teste de Qui-quadrado e as variáveis quantitativas contínuas através do teste ANOVA.
Resultados: A percentagem média de respostas corretas na escala de conhecimentos sobre alimentação/nutrição foi de 77,9% (desvio-padrão=12,57) (variação 36%-100%). Ao analisarmos os fatores associados a um conhecimento em alimentação/nutrição elevado (>90% respostas corretas), verificou-se que este foi significativamente superior nos indivíduos que reportaram um consumo médio mais elevado de fruta e produtos hortícolas (4,6 vs. 3,2 porções/dia, p=0,019), particularmente de sopa, nos estudantes com mães mais escolarizadas (12,7 vs. 11,3 anos médios de escolaridade, p=0,039) e nos estudantes da Faculdade de Ciências da Saúde comparativamente aos da Escola Superior de Saúde (55,0% vs. 45,0%, p=0,018).
Conclusões: Os estudantes da área das Ciências da Saúde mostraram um nível de conhecimentos sobre alimentação/nutrição relativamente elevado. Um maior conhecimento foi associado a um maior consumo de fruta e produtos hortícolas, uma maior escolaridade da mãe e ao local de Ensino (Faculdade/Escola).
Introdução: O nutricionista é um profissional de saúde que entende o contexto em que a nutrição e a alimentação se processam, sendo competente tecnicamente, crítico e comprometido com a realidade existente. Questões relacionadas com sustentabilidade alimentar aplicam-se a todas as áreas da nutrição e dietética, com particular enfoque na área da alimentação coletiva e restauração sendo preciso valorizar as atribuições e contribuições do nutricionista na promoção de um futuro de qualidade.
Objetivos: Descrever a perceção dos nutricionistas que exercem atividade na área da alimentação coletiva e restauração sobre a sua atuação na promoção da sustentabilidade alimentar.
Metodologia: Estudo transversal, realizado por inquirição da população-alvo com um questionário online, através de uma técnica de amostragem não aleatória selecionada por conveniência. A amostra deste estudo é composta por nutricionistas, residentes em Portugal e a exercer atualmente na área da nutrição. Os dados sumarizaram-se através de frequências absolutas e relativas, e através de média, desvio-padrão, mediana e amplitude interquartil. Utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para analisar a adesão das variáveis em estudo à distribuição normal e, conforme os resultados, utilizou-se o teste de Mann-Whitney para comparação entre grupos.
Resultados: Dos 115 participantes, 48,7% consideram totalmente importante a promoção da sustentabilidade alimentar na sua atuação e 46,1% concordam que podem melhorar a sua ação. Os conceitos que mais relacionam com a sustentabilidade alimentar são a redução do desperdício alimentar, preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. As principais ações praticadas são a promoção da Dieta Mediterrânica e redução do desperdício alimentar. Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre as dificuldades e ações dos nutricionistas que exercem atividade em alimentação coletiva e os que não o fazem.
Conclusões: Os resultados demonstram que os participantes acreditam na sua capacidade para colocar ações em prática e reforça a necessidade de reconhecer e capacitar os nutricionistas como importantes agentes promotores da sustentabilidade alimentar.
Preferências alimentares e condicionantes da ingestão alimentar de doentes com demência e comprometimento cognitivo
Introdução: O aumento da esperança média de vida e o envelhecimento da população têm conduzido a um incremento na prevalência de doenças crónicas progressivas como as demências. As alterações metabólicas e fisiológicas que decorrem podem causar comprometimento do estado nutricional destes doentes.
Objetivos: Identificar as preferências relativamente a alimentos e bebidas e conhecer os fatores que condicionam a ingestão alimentar em doentes com demência ou comprometimento cognitivo.
Metodologia: Realizou-se estudo observacional descritivo do tipo transversal que incluiu doentes, com diagnóstico de demência ou comprometimento cognitivo e/ou os seus cuidadores informais, internados na Unidade de Cuidados Continuados e Unidade de Convalescença, Reabilitação e Manutenção do Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa. A recolha dos dados foi realizada através de um questionário construído especificamente para o efeito.
Resultados: A maioria dos doentes mencionou preferir sabores doces, alimentos cozidos, quentes de consistência normal e como bebida a água. Nos condicionantes da ingestão alimentar salientam-se como fatores mais selecionados a companhia durante as refeições, forma de apresentação e quantidade/volume das refeições.
Conclusões: A intervenção nutricional em contexto hospitalar, para além das necessidades nutricionais do doente, deve ter em consideração as suas preferências, de modo a contribuir para o seu bem-estar geral.
A infertilidade tem aumentado nos últimos anos, afetando cerca de 10% da população portuguesa. O impacto dos tratamentos de procriação medicamente assistida tem potenciado a procura por fatores modificáveis da função reprodutiva. A presente revisão temática tem como objetivo analisar as associações entre alimentação, nutrição e fertilidade feminina.
Tanto a Dieta Mediterrânica como a Dieta de Fertilidade melhoram os parâmetros reprodutivos nas mulheres e a ingestão adequada de antioxidantes parece proteger a função reprodutiva. Pelo contrário, o consumo de ácidos gordos trans, proteínas de origem animal, hidratos de carbono, carnes brancas, laticínios magros, fast-food, bebidas alcoólicas, açucaradas e com cafeína diminuem a fertilidade.
Embora a idade da mulher seja um determinante da função reprodutiva e as associações sejam apenas parcialmente compreendidas, a alteração da alimentação continua a ser uma das intervenções mais promissoras na preservação da fertilidade.
Introdução: A presença de um número considerável de timorenses a residir em Portugal, justifica a necessidade de investigar acerca dos seus hábitos alimentares, uma vez que até à data, existe uma lacuna de informação relativamente a este tema.
Objetivos: Avaliar e conhecer os hábitos alimentares, o estado nutricional e os estilos de vida de uma amostra de timorenses a residir em Portugal.
Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo observacional, de desenho transversal que abrange uma amostra da população timorense residente em Portugal, de idade igual ou superior a 18 anos. Integraram a amostra 88 indivíduos. Foi elaborado um questionário estruturado de aplicação direta, com questões relativas às características sociodemográficas, estilos de vida e estado de saúde, caraterísticas antropométricas, hábitos alimentares e suas alterações após a emigração. A recolha de dados aconteceu entre fevereiro e março de 2020.
Resultados: Foram analisadas 82 respostas dos participantes com idade média de 29,7±12,5 anos. A maioria apresentava um Índice de Massa Corporal normal (64,1%) e 21,9% eram pré-obesos ou obesos. 26,5% dos inquiridos realizaram as refeições, de forma completa e saudável. 62,2% da amostra relatou melhorias no seu estado de saúde após a vinda para Portugal e 69,5% considerou que a alimentação teve influência nessa mudança. Relativamente às alterações dos hábitos alimentares, 70,7% dos inquiridos mencionaram terem alterado o número de refeições, as quantidades de alimentos consumidos (78%) e 58,5% o local habitual onde realizavam as suas refeições.
Conclusões: Dos timorenses que vieram para Portugal, só ¼ da amostra realizaram refeições completas e saudáveis, mas só cerca de metade ingeria frutas e hortícolas. Com a vinda para Portugal, reportaram consumir um maior número de refeições, maiores quantidades de alimentos e faziam as suas refeições mais vezes fora de casa. Reduziram a prática de atividade física e ¼ da amostra fumava e bebia álcool semanalmente. Mais de metade da amostra era normoponderal, apresentando pré-obesidade e obesidade ¼ dos inquiridos.
A infeção pelo vírus SARS-CoV-2, identificada pela primeira vez na China, rapidamente se difundiu a nível mundial. A fim de diminuir a propagação desta doença infeciosa, declarada como uma pandemia, foram decretados confinamentos domiciliários um pouco por todo o mundo. Estes confinamentos alteraram os hábitos alimentares da população, na maioria dos casos para pior, verificando-se um aumento no consumo de alimentos menos saudáveis. Este fator e a diminuição da atividade física verificada, podem culminar no desenvolvimento de patologias metabólicas, cardiovasculares e outras. Assim, é essencial alertar as populações neste sentido e educá-las para melhores escolhas alimentares.
Introdução: As medidas de contenção social impostas durante a pandemia COVID-19 resultaram em restrições na vida diária e, consequentemente em alterações ao estilo de vida. Conhecer o efeito destas medidas nos hábitos alimentares e atividade física será importante para definir respostas de Saúde Pública ajustadas e em tempo útil.
Objetivos: Avaliar o efeito do período de contenção social na perceção da alteração de fatores do estilo de vida relacionados com a alimentação e a atividade física.
Metodologia: Estudo observacional, transversal e descritivo, de abordagem quantitativa. A amostra foi de 407 participantes entre os 5-84 anos de idade. Um questionário foi aplicado por entrevista telefónica assistida por computador, entre os dias 22 e 29 de maio. Na comparação dos dados por grupo etário e concelho de residência foram usados os testes Qui-quadrado e Kruskal-Wallis.
Resultados: Em comparação com o período pré-contenção social, 52,1% dos respondentes considerou ter diminuído a atividade física, 51,8% aumentou o tempo sentado e 33,7% alterou a sua alimentação. O aumento do comportamento de snacking foi reportado por 63,6% dos participantes, dos 5-10 anos, e por 50,0% dos 10-17 anos. Entre os mais jovens destaca-se o aumento na ingestão de água e fruta, e a redução de refeições takeaway/entrega ao domicílio e pré-preparadas.
Conclusões: As medidas de contenção social provocaram diminuição na atividade física e a alteração de hábitos e comportamentos alimentares, principalmente entre os mais jovens.