Introdução: A insatisfação com a imagem corporal pode associar-se à adoção de diferentes práticas alimentares, no entanto, a evidência é escassa e foca-se em grupos específicos de indivíduos, tais como estudantes universitários, mulheres e adolescentes.

OBJETIVOS: Avaliar a associação entre a (in)satisfação com a imagem corporal e o consumo alimentar e nutricional de adultos jovens. METODOLOGIA: Participaram neste estudo 111 adultos (18-35 anos, 67,6% mulheres), selecionados por conveniência. A perceção da imagem corporal foi avaliada através da Escala de Silhuetas de Stunkard et al. e categorizada em satisfação, insatisfação por défice (diferença negativa entre a imagem corporal real e a desejada) e insatisfação por excesso (diferença positiva entre a imagem corporal real e a desejada). O consumo alimentar foi avaliado através da administração direta de um Questionário de Frequência Alimentar validado para a população adulta Portuguesa. As associações foram avaliadas por regressão linear (coeficientes β̂ e respetivos intervalos de confiança a 95% – IC95%), após ajuste para idade, escolaridade e exercício físico e após estratificação por sexo.

RESULTADOS: As mulheres mostraram-se mais insatisfeitas com a sua imagem corporal por excesso (57,3% vs. 30,6%, p=0,009), enquanto a insatisfação por défice foi mais reportada pelos homens (27,8% vs. 9,3%, p=0,009). Os homens insatisfeitos por défice (desejo de aumentar o tamanho corporal) apresentaram consumos mais elevados de pescado (β̂=181,0, IC95%:38,3;323,6), ovos (β̂=23,1, IC95%:2,9;43,2), fruta (β̂=191,3, IC95%:90,0;292,5) e hortícolas (β̂=221,6, IC95%:99,7;343,4), o que se traduziu em ingestões significativamente superiores de energia, proteínas (em contributo percentual para o valor energético total), fibra alimentar, vitamina B12, vitamina C, cálcio, magnésio, potássio e sódio, quando comparados com os satisfeitos com a sua imagem corporal. Nas mulheres, não foram encontradas diferenças significativas.

CONCLUSÕES: A maioria dos adultos jovens encontra-se insatisfeito com a sua imagem corporal, sendo que quase 30% dos homens manifestou o desejo de aumentar o seu tamanho corporal. Esta insatisfação da imagem corporal por excesso associou-se a consumos mais elevados de pescado e ovos, bem como fruta e hortícolas, o que se traduziu, do ponto de vista nutricional, em ingestões superiores de energia, proteína (em função do valor energético total), fibra alimentar, vitamina B12, vitamina C, cálcio, magnésio, potássio e sódio.