EDITORIAL

Nuno Borges

Acta Portuguesa de Nutrição 2020, 19, 02 , https://dx.doi.org/10.21011/apn.2020.1901

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Resumo

A décima nona edição da Acta Portuguesa de Nutrição inclui dez novos artigos, sendo sete originais e três revisões. Trata-se de um significativo contributo para esta área, revelador do contínuo e abnegado esforço de tantos investigadores das Ciências da Nutrição, em Portugal e não só, assim como dos revisores que contribuíram para que estes trabalhos pudessem cumprir o seu percurso até à publicação. Impõe-se, pois, um agradecimento a todos eles.

As duas revisões centradas na Vitamina D constituem mais uma importante adição ao conhecimento sobre esta vitamina, e cujo status na população Portuguesa está longe de se poder considerar adequado. Na realidade, toda a informação de que dispomos atualmente revela que uma parte muito significativa dos residentes em Portugal apresenta níveis plasmáticos considerados de risco. Muito recentemente foi publicado um novo estudo, por Duarte et al.1, onde se obtiveram prevalências de cerca de 21% de risco de deficiência e de 45% de risco de inadequação. Estes valores são ainda maiores nos meses de menor exposição solar. Dada a relevância desta vitamina na saúde óssea, parece-nos urgente a tomada de medidas de saúde pública que visem contornar este problema. Entre estas, a fortificação de alimentos com vitamina D tem constituído uma alternativa válida em alguns países, requerendo, por isso, uma profunda análise por parte das entidades competentes. Parece-nos assim essencial a colaboração de investigadores da área, para que possam ser definidas quantidades e, sobretudo, os alimentos que possam constituir os veículos mais adequados a esta fortificação, de modo a atingir o máximo da população sem prejudicar o importante equilíbrio alimentar de cada um.

Torna-se, em nosso entender, inevitável, nestes tempos conturbados de epidemia pelo COVID19, abordar o tema. A pandemia tem gerado em Portugal e no Mundo profundas alterações dos nossos hábitos, podendo mesmo especular-se (mas apenas isso) que a alimentação pode estar aqui incluída nestas mesmas alterações. Será, por certo, um tema que virá a ser objeto de estudo por parte da comunidade científica. É, no entanto, demasiado prematuro para que possamos prever o que vai suceder a este nível, sendo que neste momento as prioridades devem estar noutro tipo de problemas. O que parece já evidente é a tentativa de profissionais menos escrupulosos em tirar partido da situação, promovendo práticas alimentares que, alegadamente, favorecem a proteção ou até o tratamento desta infeção vírica. Uma vez mais, e como tantas vezes fazemos aqui, pede-se que todos tenham por base nas suas afirmações, quer públicas quer privadas, a melhor evidência científica disponível, sob pena de desvirtuar a própria credibilidade e, com ela, a de toda uma classe de profissionais. A Acta Portuguesa de Nutrição continuará o seu percurso de divulgação de conhecimento científico validado por pares, no mais rigoroso cumprimento das normas a que se propôs desde a primeira hora.

1 Duarte, C, et al. Prevalence of vitamin D deficiency and its predictors in the Portuguese population: a nationwide population-based study. Archives of Ostheoporosis. 2020. 15(1):36.