A situação alimentar e nutricional no sul de Angola – uma revisão da evolução do estado nutricional e das práticas alimentares na infância
The food and nutritional situation in southern Angola – a review of the evolution of nutritional status and infant and young child feeding practices
Isa Viana, Rita Pereira Luís, Duarte Torres, Ketha Francisco, Liliana Granja, Sofia Rodrigues e Carla Lopes
Acta Portuguesa de Nutrição 2025, 40, 40-46 , https://dx.doi.org/10.21011/apn.2025.4008
Visualizações: 969 | Downloads PDF: 83
Resumo
A evidência científica mostra que práticas alimentares inadequadas nos primeiros 2 anos de vida têm efeitos negativos no estado nutricional e prejudicam um desenvolvimento adequado e a saúde no ciclo de vida. A insegurança alimentar é uma das principais causas de desnutrição. O sul de Angola apresenta níveis inadequados de insegurança alimentar, pelo que é relevante caracterizar a situação alimentar e nutricional das crianças na região.
Realizou-se uma revisão narrativa para analisar a evolução da situação alimentar e nutricional das crianças < 5 anos na região do sul de Angola, nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe. Foi revista a melhor evidência publicada nos últimos 15 anos em relatórios de inquéritos populacionais realizados por entidades públicas angolanas e por organizações que atuam na região.
No sul de Angola, as prevalências de desnutrição aguda global, de desnutrição crónica global e de baixo peso global aparentam estar a aumentar, com exceção da desnutrição aguda global no Cunene. Dados de 2021 mostraram valores de desnutrição aguda global de 9,0%, superiores aos targets definidos internacionalmente de < 5%. A desnutrição crónica global na região classifica-se como “muito alta”, apresentando um valor de 47,1%, sendo superior na Huíla e no Cunene. A região apresenta também valores elevados de baixo peso global (28,5%). Já o excesso de peso apresenta valores baixos (1,1%) e a prevalência de aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses parece também ter uma evolução positiva em toda a região. Apesar da escassez de informação sobre o consumo alimentar individual, os dados ao nível do agregado familiar apontam para a diminuição da diversidade e da frequência alimentar das crianças dos 6 aos 23 meses.
Em conclusão, os resultados mostram a necessidade de monitorização periódica da situação alimentar e nutricional das crianças menores de 5 anos na região. Recomenda-se o fortalecimento de estratégias de monitorização do estado nutricional e das práticas alimentares na infância e um reforço da capacitação dos profissionais de saúde na área da nutrição, com vista ao desenvolvimento de programas para a mitigação da situação atual para consequente melhoria do estado nutricional e de saúde, e redução da mortalidade infantil.
Abstract
Scientific evidence shows that inadequate feeding practices during the first two years of life have negative effects on nutritional status and impair proper development and health throughout the life course. Food insecurity is one of the main causes of undernutrition. Southern Angola experiences significant levels of food insecurity, making it relevant to characterise the food and nutrition situation of children in the region.
A narrative review was conducted to analyse the evolution of the food and nutrition situation of children under the age of five in southern Angola, specifically in the provinces of Cunene, Huíla, and Namibe. The best available evidence from the past 15 years was reviewed, based on population survey reports conducted by Angolan public entities and organisations active in the region.
In southern Angola, the prevalence rates of global acute malnutrition, global chronic malnutrition (stunting), and underweight appear to be increasing, with the exception of global acute malnutrition in Cunene. Data from 2021 showed a global acute malnutrition prevalence of 9.0%, exceeding internationally defined targets of <5%. Chronic malnutrition in the region is classified as "very high", with a prevalence of 47.1%, being more pronounced in Huíla and Cunene. The region also presents high rates of underweight (28.5%). Conversely, the prevalence of overweight remains low (1.1%), and exclusive breastfeeding up to six months of age appears to be improving across the region.
Despite the limited information available on individual dietary intake, household-level data indicate a reduction in dietary diversity and meal frequency among children aged 6 to 23 months.
In conclusion, the findings highlight the need for regular monitoring of the food and nutrition situation of children under five in the region. It is recommended to strengthen monitoring strategies for nutritional status and infant feeding practices, and to enhance the capacity of healthcare professionals in the field of nutrition, with a view to developing programmes aimed at mitigating the current situation, improving nutritional and health outcomes, and reducing child mortality.
Palavras-chave: Acute malnutrition, África, Chronic malnutrition, Desnutrição aguda, Desnutrição crónica, Estado nutricional, Infant and young child feeding practices, Nutritional status, Práticas alimentares na infância, Southern Angola, Sul de Angola