INTRODUÇÃO: Apesar da evidência científica disponível não mostrar utilidade clínica na utilização da maioria dos suplementos
alimentares que visam o emagrecimento e destes frequentemente apresentarem problemas do ponto de vista de qualidade e segurança, os suplementos alimentares continuam a ser comercializados e utilizados por quem procura perder peso.
OBJETIVOS: Analisar a rotulagem de suplementos alimentares direcionados à perda de peso comercializados em Portugal, quanto a potenciais riscos relacionados com os ingredientes que os compõem e avaliar com base na literatura científica disponível o benefício na perda de peso dessas substâncias.
METODOLOGIA: Recolheram-se aleatoriamente, em supermercados de Lisboa, entre março e abril de 2023, 40 suplementos alimentares que na sua embalagem visam especificamente a perda de peso, tendo sido feita uma análise à sua rotulagem.
RESULTADOS: As substâncias mais comummente encontradas, na maioria dos casos combinadas, e em dosagens muito variáveis,
foram o picolinato de crómio, a Cynara scolymus L., o Taraxacum officinale, a Camellia sinensis, o Citrus aurantium, o Silybum marianum e a Garcinia cambogia. Identificaram-se alegações de saúde infundadas e as substâncias identificadas ou não possuem ensaios clínicos aleatorizados e controlados sobre o seu impacto na perda de peso, ou quando possuem, o benefício demostrado é diminuto ou inexistente, apresentando ainda alguns riscos do ponto de vista de segurança.
CONCLUSÕES: Os suplementos alimentares que visam a perda de peso apresentam uma grande diversidade de substâncias em diferentes combinações e dosagens, que para além de não apresentarem robustez na evidência do seu benefício como auxílio no tratamento da obesidade, podem apresentar potenciais riscos para quem os consome.
Índice Inflamatório da Dieta em indivíduos com sucesso na gestão do peso: associação com indicadores de comportamento alimentar e depressão
Introdução: A manutenção do peso perdido a longo prazo é um desafio, pelo que é essencial compreender os fatores envolvidos.
Objetivos: Analisar o índice inflamatório da dieta de indivíduos portugueses com sucesso na gestão do peso, explorando a sua associação com a magnitude de perda de peso e o índice de massa corporal, e com indicadores de comportamento alimentar e depressão, assim como explorar a relação destas variáveis entre si.
Metodologia: Foram utilizados dados do Registo Nacional de Controlo do Peso (n=205; 59,5% mulheres; 38,97 ± 10,82 anos; 25,76 ± 3,99 kg/m2). A ingestão alimentar foi avaliada através do Questionário semi-quantitativo de Frequência Alimentar, a partir do qual foi calculado o índice inflamatório da dieta; o comportamento alimentar (alimentação emocional e externa) através do Dutch Eating Behaviour Questionnaire; e o nível de depressão através do Beck Depression Index.
Resultados: O índice inflamatório da dieta variou de -3,67 a 3,64. Observou-se uma associação negativa entre o índice inflamatório da dieta e a magnitude de perda de peso na amostra total (r=-0,151, p=0,043) e no sexo feminino (r=-0,225, p=0,021). Relativamente ao índice de massa corporal, encontrou-se uma associação positiva com o índice de depressão (r=0,276, p<0,001) e com a alimentação emocional (r=0,284, p<0,001). Adicionalmente, o índice de depressão associou-se de forma positiva com a alimentação externa (r=0,322, p<0,001) e emocional (r=0,403, p<0,001).
Conclusões: Uma alimentação anti-inflamatória parece associar-se a maior magnitude de perda de peso em mulheres com sucesso na manutenção do peso perdido, o que sugere que o índice inflamatório da dieta poderá ser um fator relevante no que diz respeito à gestão do peso nesta população em particular. À medida que o índice de massa corporal aumenta, parece aumentar também o nível de depressão e a alimentação emocional não só nestas mulheres, mas também nos homens. Uma melhor compreensão da relação entre estes e outros fatores envolvidos na gestão do peso com sucesso poderá́ contribuir para o delineamento de intervenções do estilo de vida mais apropriadas.