A caquexia oncológica é uma síndrome multifatorial, associada a uma doença subjacente, caracterizada por perda involuntária de peso e comprometimento e redução da massa muscular esquelética, com ou sem perda de massa gorda. Surge em cenário de inflamação sistémica e distúrbio metabólico, acarretando um impacto significativo na toxicidade do tratamento, qualidade de vida, capacidade funcional e mortalidade. Embora o suporte nutricional convencional inclua o controlo de sintomas, inflamação e modulação metabólica e eficácia do tratamento, ele não é capaz de reverter totalmente a caquexia oncológica. Os objetivos nutricionais são fornecer uma ingestão energética e proteica adequadas, juntamente com uma combinação de agentes anti-inflamatórios e outros nutrientes. Nesta revisão, o foco está no efeito de certos nutrientes e moléculas bioativas na perda muscular, inflamação e caquexia oncológica (β-hidroxi-β-metil butirato, aminoácidos de cadeia ramificada, ácidos gordos polinsaturados, carnitina, polifenóis e vitamina D). Fontes alimentares que forneçam os nutrientes/moléculas mencionados devem ser recomendadas, em adição a um suporte nutricional convencional, pois é esperado que exerçam funções específicas na caquexia oncológica.
COVID-19 e Outcome Nutricional: caso clínico que destaca o valor da intervenção nutricional integrada
Homem de 81 anos, com pneumonia por COVID-19 confirmada, foi hospitalizado por falência respiratória hipoxémica e hipernatrémia hipovolémica grave. Durante a abordagem pré-hospitalar, foi medicado para taquicardia supraventricular com adenosina, com sucesso. No Serviço de Urgência apresentou-se com alteração do estado de consciência alternando prostração com agitação, se estimulado. Estudos subsequentes confirmaram infeção por SARS-CoV2 e pneumonia COVID-19 (radiografia de tórax) com insuficiência respiratória hipoxémica. Estudos analíticos indicavam falência renal com hipernatrémia hipovolémica. Em enfermaria dedicada a COVID-19, foram iniciadas medidas de conforto, mas o doente manteve-se estável. Assim, foi colocada Sonda nasogástrica para correção da desidratação. Ao mesmo tempo, o doente foi identificado como tendo elevado risco nutricional, garantindo avaliação por equipa de nutricionistas, seguindo-se implementação de plano nutricional ajustado. A integração atempada de uma intervenção nutricional proativa e especializada com os cuidados clínicos fizeram a condição do doente melhorar progressivamente.
Apesar de todas as restrições e desafios clínicos no cuidado a doentes idosos com COVID-19, a identificação do risco e monitorização nutricional, em articulação multidisciplinar, permanece essencial e, conforme é descrita neste caso, permitiu a implementação atempada de hidratação e medidas nutricionais que contribuíram para a resposta clínica favorável. O doente apresentou uma melhoria até ao estado habitual e teve alta para o lar de onde tinha vindo, onde ainda hoje reside, em boa saúde sem perda de função. Este caso demonstra a importância e necessidade de implementação e integração de cuidados nutricionais nas hospitalizações por COVID-19.
O doente crítico, mediante todas as particularidades que lhe são características, constitui um verdadeiro desafio em termos de suporte nutricional. Embora as recomendações internacionais preconizem que o suporte nutricional deva ser instituído o mais precocemente possível, preferencialmente sob a forma de nutrição entérica, este é interrompido desnecessariamente grande parte das vezes, prejudicando o seu estado nutricional e a respetiva evolução clínica. A monitorização do volume de resíduo gástrico, que carece de fundamentação, é uma das metodologias que conduz frequentemente os clínicos e enfermeiros a interromperem a nutrição entérica quando os conteúdos gástricos aspirados atingem determinados volumes máximos ou ainda nos casos em que se considera que o doente não tolera a alimentação. A presente revisão tem como objetivo balancear prós e contras da prática da monitorização do volume de resíduo gástrico, de forma a aferir a sua aplicabilidade na unidade de cuidados intensivos.
As doenças inflamatórias intestinais incluem a doença de Crohn, que se manifesta maioritariamente ao nível do íleo e do cólon, mas também pode provocar alterações em qualquer região do trato gastrointestinal. Pessoas com este tipo de patologias possuem maior risco de carências nutricionais devido a várias razões relacionadas com a doença e com o próprio tratamento. Assim, o objetivo primário da alimentação é restaurar e manter o estado nutricional do indivíduo. Para tal utilizam-se alimentos, suplementos alimentares, e a nutrição entérica e parentérica. A dieta oral e os outros meios de suporte nutricional podem ser alterados durante as fases características da Doença de Crohn.
O presente trabalho tem como objetivo rever as evidências mais recentes acerca do suporte nutricional na doença de Crohn e elaborar uma pequena reflexão sobre estas. Através desta reflexão, concluiu-se que a educação alimentar é fundamental para alertar os doentes em relação à variedade de alimentos que dispõem e que podem consumir, caso os tolerem, de forma a evitar as dietas extremamente restritas indicadas no passado, que contribuíam para maior frustração dos doentes e consequentemente menor qualidade de vida. A nutrição entérica é o tratamento de primeira linha para a indução da remissão da doença em fase ativa em crianças, sendo que também apresenta benefícios na remissão da doença em adultos. Por sua vez, a nutrição parentérica apenas é recomendada quando a nutrição entérica é contraindicada.