Introdução: Os suplementos de ácido fólico, comparticipados no mercado português, contendo apenas esta vitamina, contêm uma dose 12,5 vezes maior do que a dose diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde, o que faz prever que, em Portugal, as mulheres grávidas façam uma suplementação excessiva em ácido fólico. Por outro lado, o início da suplementação raramente acontece na pré-conceção, como seria desejável.
Objetivos: Conhecer as perceções e as práticas clínicas sobre a prescrição de suplementação com ácido fólico na gravidez e identificar os benefícios e efeitos adversos que os médicos reconhecem nesta suplementação.
Metodologia: Foram realizadas 12 entrevistas semiestruturadas a médicos especialistas em medicina geral e familiar (n=6) ou em obstetrícia (n=6), em unidades de saúde familiar e hospitais da área metropolitana do Porto, cujo conteúdo, após desgravação, foi codificado em categorias e subcategorias que foram sujeitas a análise qualitativa recorrendo ao software NVIVO 10.0.
Resultados: Foi possível observar que: a) todos os médicos reconhecem a importância da suplementação com ácido fólico na gravidez para a prevenção da ocorrência de malformações do tubo neural, b) há a convicção de que a adesão à toma de ácido fólico é muito elevada (n=12); c) há unanimidade na descrição de falta de oportunidade para cumprir o início da suplementação antes da conceção e ainda que d) há um razoável desconhecimento em relação à dose de ácido fólico prescrita (n=7).
Conclusões: Considerando os estudos recentes que sugerem efeitos adversos da suplementação com ácido fólico em doses excessivas e temporalmente desadequadas, este estudo evidencia a pertinência de um esforço conjunto nacional para a homogeneização das práticas clínicas na prescrição de suplementação com ácido fólico na gravidez.