Introdução: A Paralisia Cerebral é um conjunto de distúrbios do desenvolvimento do movimento e postura resultantes de lesões cerebrais no feto ou criança. Estas alterações conduzem frequentemente a dificuldades alimentares e podem estar relacionadas com ingestão alimentar inadequada, estado nutricional, função motora, duração das refeições e dependência, qualidade de vida da criança e dos cuidadores.

Objetivos: Realizar uma revisão sistemática sobre as dificuldades alimentares em crianças e adolescentes com Paralisia Cerebral e o seu impacto negativo na saúde e qualidade de vida.

Metodologia: Recolher e analisar dificuldades alimentares descritas em artigos científicos, segundo as normas PRISMA. De seguida, analisar o seu impacto na saúde e qualidade de vida da população em estudo.

Resultados: Um total de 19 estudos foi selecionado para esta revisão, sendo que todos relataram dificuldades alimentares. Onze referiram dificuldades alimentares de caráter oromotor, 6 identificaram problemas gastrointestinais, 8 abordaram a necessidade de assistência durante as refeições e 1 a recusa alimentar. A associação entre as competências alimentares e a função motora foi relatada em 6 estudos. Dez artigos evidenciaram um comprometimento da ingestão alimentar e 4 afirmaram que este pode conduzir à necessidade de utilização de outras vias de alimentação, como a gastrostomia. A baixa qualidade de vida destas crianças e dos seus cuidadores foi descrita em 3 estudos.

Conclusões: As dificuldades alimentares são recorrentes na população com Paralisia Cerebral. Apesar da procura de um nutricionista ser pouco frequente, este deve ser consultado assim que surjam sinais de um possível comprometimento alimentar para minimizar as suas consequências, melhorando assim o estado nutricional e a qualidade de vida.

Introdução: A Paralisa Cerebral é a causa mais comum de deficiência motora na infância. As alterações do movimento e postura a ela associadas conduzem frequentemente a dificuldades alimentares. A prevalência destas dificuldades parece relacionar-se com a gravidade da função motora e as suas consequências incluem refeições demoradas e stressantes, doenças respiratórias, desidratação e desnutrição.

Objetivos: Avaliar a relação entre a função motora, as competências alimentares e o peso de crianças e adolescentes com Paralisia Cerebral.

Metodologia: Avaliaram-se 73 crianças e adolescentes entre os 3 e os 18 anos. A função motora foi avaliada através do Gross Motor Function Classification System e as competências alimentares através do Eating and Drinking Classification System; os percentis de peso para a idade foram determinados através das curvas de crescimento específicas para esta população.

Resultados: Em relação à função motora, o nível V do Gross Motor Function Classification System foi o mais encontrado (60,3%). Quanto às competências alimentares, o nível I do Eating and Drinking Classification System foi o mais representativo (46,6%) e a maior parte da amostra revelou ser totalmente dependente para realizar a alimentação. O risco de excesso de peso foi superior ao risco de baixo peso para a idade. Verificou-se que, quanto maior a gravidade motora e as dificuldades alimentares, menor o percentil de peso para a idade e que maiores dificuldades alimentares estão associadas ao risco de uma criança/adolescente apresentar baixo peso.

Conclusões: Confirmou-se a existência de uma relação entre a função motora e as competências alimentares das crianças e adolescentes (uma maior gravidade do comprometimento motor está associada a maiores dificuldades alimentares) e que, maiores dificuldades alimentares condicionam o seu peso.

Uma das defnições mais recentes da paralisia cerebral descreve-a como um grupo de alterações permanentes, mas não inalteráveis, do movimento e da postura, que causa limitações na atividade, as quais são atribuídas a lesões não progressivas que ocorrem no cérebro imaturo e em desenvolvimento. Nesta população são comuns as difculdades alimentares. Estas podem resultar de uma defciência oro-motora (difculdades de mastigação e/ou deglutição), disfagia e defciência sensorial, com ou sem distúrbios comportamentais. A estas difculdades alimentares podem, ainda, estar associados problemas de saúde como aspiração de alimentos e infeções pulmonares, refuxo gastroesofágico e obstipação. A baixa ingestão hídrica, ou até mesmo desidratação, o aumento do tempo despendido para efetuar uma refeição e a ingestão insufciente (que pode levar a baixo peso) são outras das consequências destes problemas na alimentação. Por outro lado, existem situações em que é comum observar-se excesso ponderal por diversas razões (por exemplo, sedentarismo). A intervenção a nível alimentar/nutricional é, por isso, fundamental para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo. É, ainda, imprescindível que os cuidadores disponham de toda a informação e motivação para lidar com as suas especifcidades, de forma a que as refeições sejam o mais agradáveis e seguras possível. Nesta população, a alimentação pode ser o nosso maior aliado.