Ao abordar problemas de saúde relacionados com alimentação, uma abordagem mais holística tem sido encorajada, antes de abordar qualquer questão específica para explicar o todo. A análise ao nível de padrões de refeição permite avaliar o efeito combinado da sinergia de diferentes alimentos e ser traduzida em resultados significativos, como recomendações alimentares. Esta revisão pretende descrever diferentes abordagens para definir refeições e evidência prévia sobre a associação entre o padrão da refeição e peso corporal. Uma variedade de definições do que constitui uma refeição tem sido usada em investigações anteriores, incluindo a ‘hora do dia’, ‘identificação pelo participante’, ‘classificação baseada no alimento’ e ‘neutra’. Além disso, para otimizar a diferenciação entre uma refeição principal e um lanche (snack), mais de um critério deverá ser usado. A inconsistência nas definições do que constitui uma refeição, pode influenciar as suas associações com o peso corporal e dificultar a interpretação dos resultados e a comparação entre diferentes estudos.

A obesidade é uma doença multifatorial, para a qual contribuem múltiplos fatores genéticos (poligénica) e ambientais. É conhecido o seu papel como fator de risco para a diabetes Mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e certos tipos de cancro. O desenvolvimento tecnológico a que se assistiu nas últimas décadas permitiu ampliar em grande medida o nosso conhecimento sobre os mecanismos moleculares e celulares associados à sua fisiopatologia. Entre as “novas ciências” que emergiram, destaca-se a genómica nutricional, uma nova área de estudo que revela o papel do património genético individual e da interação gene-nutrimento no desenvolvimento da doença. Este artigo pretende apresentar uma revisão das novas abordagens no estudo da obesidade e discutir a importância desta temática na prevenção e tratamento da doença. O conhecimento da variabilidade interindividual no perfil genético, epigenómico, metagenómico e cronobiológico da obesidade permitirá o desenvolvimento de melhores ferramentas de diagnóstico e de tratamento da obesidade.

Introdução: A prevalência de obesidade e excesso de peso em Portugal tem vindo a aumentar. Assim, é fundamental avaliar a eficácia da consulta de nutrição, promovendo uma intervenção eficaz.

Objetivos: Estudar o efeito da intervenção alimentar na evolução da composição corporal e na adoção de hábitos alimentares saudáveis em utentes com excesso de peso ou obesidade.

Metodologia: Estudo epidemiológico observacional, descritivo e prospetivo, numa amostra de conveniência de doentes adultos com excesso de peso ou obesidade de ambos os géneros que foram acompanhados mensalmente durante 3 meses nas consultas externas de nutrição na Unidade de Portimão do Centro Hospitalar Universitário do Algarve. A informação referente a hábitos alimentares foi obtida através do inquérito alimentar às 24 horas anteriores. Procedeu-se também à avaliação da composição corporal pela técnica de bioimpedância.

Resultados: Foram incluídos 38 utentes (22 do sexo feminino e 16 do sexo masculino), os quais apresentaram uma idade média de 57,8 ± 12,7 anos. Encontrou-se uma diferença estatisticamente significativa entre os valores antropométricos antes e após a intervenção alimentar individualizada (p < 0,01). Verificou-se, uma diminuição das médias de peso (92,8 ± 15,0 versus 91,1 ± 14,2 Kg) e Índice de Massa Corporal (35,3 ± 6,3 versus 34,6 ± 6,0 Kg/m2) entre a primeira e a terceira consultas de nutrição, correspondendo a um estado de obesidade classe 2 e obesidade classe 1, respetivamente. Adicionalmente, observou-se que 55,3% dos doentes perderam massa gorda. Verificou-se, ainda, um aumento estatisticamente significativo do número diário de refeições (p < 0,01) e do consumo de hortofrutícolas (p < 0,05). A prática de atividade física e o aumento do número diário de refeições, do consumo de hortofrutícolas e da ingestão hídrica não revelaram associação estatisticamente significativa com a diminuição da percentagem de massa gorda.

Conclusões: A intervenção alimentar direcionada foi essencial na promoção de hábitos alimentares saudáveis.

Introdução: Múltiplos fatores comportamentais e de estilo de vida, incluindo comportamentos alimentares problemáticos, interagem no desenvolvimento e manutenção do excesso de peso e obesidade em adultos.

Objetivos: O presente estudo teve como objetivos descrever as principais características de uma amostra comunitária recolhida durante uma Campanha de Sensibilização para a Obesidade, ao nível de variáveis antropométricas, sociodemográficas, de estilo de vida, e de comportamentos alimentares problemáticos. Além disso, foram também exploradas as associações entre Índice de Massa Corporal, idade, género, alimentação, consumo de bebidas açucaradas e comportamentos alimentares problemáticos.

Metodologia: A amostra foi constituída por 109 indivíduos (59% mulheres, idade 39,7 ± 15,5 anos; Índice de Massa Corporal 24,8 ± 3,6) que aceitaram participar numa Campanha de Sensibilização para a Obesidade promovida num centro comercial no norte de Portugal. Índice de Massa Corporal e comportamentos alimentares problemáticos (comer de forma descontrolada, fome emocional e restrição cognitiva) foram as principais medidas avaliadas.

Resultados: Participantes com obesidade apresentaram pontuações mais elevadas nas subescalas de ingestão alimentar compulsiva e fome emocional, quando comparados a participantes com excesso de peso e Índice de Massa Corporal normal. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os géneros, grupos etários (18-28; 29-39; 40-50; 51-61; ≥62 anos) e comportamentos alimentares problemáticos.

Conclusões: Os resultados parecem sustentar a existência de uma associação positiva entre comportamentos alimentares problemáticos e a ingestão de alimentos/bebidas não saudáveis, que podem, consequentemente, levar a um aumento da ingestão calórica e a dificuldades no controle de peso. Os dados encontrados alertam os clínicos para a importância de avaliar comportamentos alimentares problemáticos em indivíduos com obesidade, fornecendo informações úteis para personalizar recomendações clínicas e estratégias de intervenção, principalmente no que diz respeito às associações entre ingestão alimentar (alimentos/bebidas) e comportamentos alimentares problemáticos.

O período da adolescência apresenta enormes desafios. As escolhas alimentares, muitas vezes, afastam-se do conceito da alimentação saudável, situação agravada por contextos socioeconómicos ou culturais desfavoráveis. A prevalência relevante de obesidade em adolescentes é uma realidade. O consumo de fast food tem vindo a ser relacionada com essa prevalência e com o afastamento do consumo de alimentos saudáveis, como os produtos hortofrutícolas. A educação alimentar e nutricional, realizada de forma sistemática, em diversos contextos como a escola, é uma estratégia importante para apoiar os adolescentes a tomar decisões que garantam a manutenção da sua saúde no presente e no futuro. O presente trabalho de revisão tem como objetivo estabelecer uma interligação crítica e reflexiva entre a nutrição e o papel da educação alimentar, sobretudo num contexto escolar, centrada no adolescente.

Introdução: Nunca se falou tanto da importância de uma alimentação saudável e cuidada desde a infância, no entanto, a batalha da obesidade ainda está longe de ser vencida e parece ser indiscutível o papel que a alimentação tem na etiologia e manutenção desta doença. As crianças passam uma grande parte do seu tempo na escola, onde também têm oportunidade de realizar várias refeições. Para além disso, a escola permite abranger outros grupos, como os pais, os professores, os assistentes operacionais, e até a própria comunidade em que está inserida, permitindo atingir todos os níveis sociodemográficos, o que faz dela um setting para intervenções de educação alimentar.

Objetivos: Esta revisão tem como objetivos responder às seguintes questões: (I) Quais os fatores a ter em conta no planeamento de intervenções eficazes para esta faixa etária? (II) Quais as medidas mais efetivas? (III) O que tem sido feito em Portugal para alterar o comportamento alimentar das crianças? e (IV) O que ainda pode ser feito para obter melhores resultados?

Metodologia: foi feita uma revisão narrativa onde se pretendeu reunir artigos científicos, documentos de organizações nacionais e internacionais que trabalham na área, avaliados trabalhos académicos realizados anteriormente e pretendeu-se, também, acrescentar a experiência das próprias autoras.

Discussão/Conclusões: O sucesso das intervenções de educação alimentar está suportado pela bibliografia existente, mas os resultados ainda não são suficientes para que se reverta a situação de obesidade e de hábitos alimentares considerados pouco saudáveis, como o baixo consumo de fruta e produtos hortícolas. Neste sentido, a inclusão de novas formas de intervenção como a inclusão dos encarregados de educação, docentes e assistentes operacionais, hortas nas escolas, aulas de culinária, atribuição de mascotes aos alimentos e melhoramento das embalagens dos alimentos a promover, parecem ser importantes para melhorar os resultados dos projetos de intervenção de educação alimentar.

Nas últimas décadas tem-se assistido ao aumento da prevalência da obesidade, representando esta doença um dos desafios mais graves de saúde pública a nível mundial. Paralelamente, verifica-se que as inovações tecnológicas não param de emergir e, se por um lado esta evolução tecnológica diminuiu a atividade física e aumentou o sedentarismo, por outro podem ser aliadas na promoção de comportamentos mais saudáveis. As aplicações mobile, principalmente as de saúde e fitness, estão cada vez mais presentes no quotidiano das pessoas, e podem, por isso, revelar-se num meio privilegiado para as apoiar na adoção de estilos de vida mais saudáveis.

Assim, a presente investigação teve como principal objetivo rever e sumarizar os conteúdos das aplicações mobile da área da saúde e fitness mais populares e comparar as gratuitas com as pagas para a obtenção de contributos para a construção de um protótipo de app credível nesta mesma área. Utilizou-se uma metodologia do tipo quantitativa. Dada a variabilidade de apps e funcionalidades encontradas, não foi possível determinar um padrão que pudesse facilitar a escolha das melhores apps. Verificou-se que as apps gratuitas têm um maior número de funcionalidades do que as apps pagas, pelo que o preço não pode ser fator de decisão de escolha.

Introdução: O excesso de peso e a obesidade infantil são uma preocupação mundial. Os principais fatores associados ao excesso de peso em idade pré-escolar são o padrão alimentar e a atividade física. O Centro de Apoio Social de Mozelos é um jardim de infância onde os hábitos alimentares são supervisionados por um Nutricionista e a atividade física é oferecida gratuitamente a todas as crianças dos 2 aos 6 anos.

Objetivos: Este estudo visou investigar a prevalência de excesso de peso e obesidade em crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos.

Metodologia: Estudou-se uma amostra de 129 crianças do Centro de Apoio Social de Mozelos (3,7±1,2 anos). Realizaram-se avaliações antropométricas às crianças e aos seus progenitores. Um questionário para caracterização da amostra foi realizado aos pais. Excesso de peso e obesidade foram definidos utilizando os critérios da Organização Mundial da Saúde.

Resultados: A prevalência global de excesso de peso e obesidade nas crianças foi de 11,7% (7,8% de excesso de peso e 3,9% de obesidade). A prevalência de excesso de peso e obesidade nos pais foi de 57,8% (40,5% de excesso de peso e 17,3% de obesidade).

Conclusões: A prevalência de excesso de peso e obesidade nos pais parece ser similar à população geral portuguesa. No entanto, os resultados encontrados nas crianças parecem estar abaixo do expectável comparando com estudos similares. São necessários mais estudos longitudinais que demonstrem claramente os benefícios da abordagem conjunta da atividade física e do padrão alimentar em jardins de infância como o Centro de Apoio Social de Mozelos na prevenção/redução do excesso de peso e obesidade em crianças com idade pré-escolar.

Introdução: A utilização de medidas económicas como políticas públicas de promoção de comportamentos alimentares saudáveis tem sido considerada por vários países para diminuir as doenças crónicas não transmissíveis.

Objetivos: O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sobre o impacto da utilização de medidas económicas para a promoção da alimentação saudável, como a taxação e a subsidiação de alimentos, em países Europeus.

Metodologia: Foi efetuada uma recolha e análise das medidas descritas em artigos científicos, documentos governamentais e regulamentos disponíveis nos países da europa. De seguida, foi realizada uma análise do impacto destas medidas no consumo e na saúde baseada na evidência disponível.

Resultados: Os países Europeus com utilização de taxação de alimentos para promoção da alimentação saudável são a Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, a França, a Hungria, a Irlanda e o Reino Unido, e com utilização de subsidiação de alimentos é o Reino Unido. Os alimentos comumente taxados são os refrigerantes, seguidos de outras bebidas com açúcar ou edulcorantes e no caso dos nutrientes são o açúcar e a gordura. A existência de estudos de eficácia destas medidas é escassa. A grande maioria dos estudos são modelos de previsão do impacto da adoção destas medidas no consumo e na saúde, apenas a Dinamarca, a Finlândia, a França, a Hungria e a Irlanda apresentam estudos observacionais, sendo que a taxação de produtos alimentares parece ter impacto ao nível da redução do seu consumo.

Conclusões: A informação analisada sugere que a utilização de medidas económicas tem potencial para modificar o consumo alimentar da população, no entanto, existem poucas evidências acerca do seu impacto a médio e longo prazo na saúde e na prevalência de doenças crónicas não transmissíveis. A adoção destas medidas pelos Governos deve fazer parte de uma política alimentar concertada e considerar uma série de fatores discutidos ao longo do artigo.

A obesidade é um problema de saúde pública que cresce ano após ano e, consequentemente aumenta o número de cirurgias bariátricas. Dentro das várias técnicas, o bypass gástrico em Y de Roux é das mais comuns em todo o mundo. Para além de promover a perda de peso a longo prazo e a resolução de comorbilidades como a Diabetes Mellitus tipo II, Hipertensão e Apneia do Sono, tem como implicações os défices nutricionais.

A relação entre a obesidade e os baixos níveis de vitamina D (25(OH)D) tem sido observada porém, a sua causalidade ainda não está bem definida. A literatura mostra achados contraditórios no que diz respeito à definição dos pontos de corte dos níveis de deficiência de 25(OH)D e na dose de suplementação antes e após o bypass gástrico.

A absorção da vitamina D em situações fisiológicas normais está bem definida, já o mesmo não se aplica após o bypass gástrico, em que o impacto da cirurgia nos níveis séricos de 25(OH)D ainda não está bem elucidado.

Dado que a vitamina D tem mostrado um papel importante não só na função óssea mas também na função imunitária e celular, serão necessários mais estudos controlados e randomizados de maneira a serem criadas recomendações para prevenir e tratar a deficiência de vitamina D em indivíduos obesos, antes e após o bypass gástrico, através da exposição solar segura, alimentação e suplementação.