A literacia alimentar consiste na capacidade do indivíduo obter, processar e entender informação relevante sobre alimentação e de utilizar os seus conhecimentos na tomada de decisão sobre o consumo alimentar, em diferentes contextos. Deste modo, maiores competências de Literacia Alimentar permitem navegar mais eficazmente nos sistemas alimentares cada vez mais complexos, e deste modo, capacitar os indivíduos para atuarem de forma autónoma na tomada de decisão contribuindo para escolhas alimentares mais salutares.

Foi objetivo deste trabalho desenvolver uma matriz teórica que combine os domínios da Literacia Alimentar com as competências relacionadas com o processamento de informação.

O desenvolvimento da matriz teve por base o conteúdo de uma revisão sistemática da literatura sobre definições de Literacia Alimentar, bem como um artigo de compilação de mapas conceptuais de Literacia Alimentar, extraindo-se daqui os domínios de Literacia Alimentar mais prevalentes. Posteriormente, por analogia a uma matriz de Literacia em Saúde, foi realizada uma adaptação aos domínios da Literacia Alimentar.

De modo a combinar os domínios da Literacia Alimentar (Planeamento e Gestão, Seleção, Preparação e Consumo) com as competências relacionadas com o processamento de informação (Aceder, Compreender, Avaliar, Aplicar), desenvolveu-se uma matriz teórica constituída por 16 dimensões de Literacia Alimentar.

Esta matriz poderá servir de base para o desenvolvimento de ferramentas de avaliação de Literacia Alimentar que incluam de forma extensiva estes conceitos e para o desenvolvimento de intervenções comunitárias e de políticas de saúde pública com vista na capacitação da tomada de decisão e mudanças do comportamento alimentar individual e coletivo.

Introdução: O nível de Literacia Nutricional e de Literacia Alimentar tem sido associado a benefícios na saúde. A escala Food and Nutrition Literacy avalia o nível de Literacia Alimentar e Literacia Nutricional em adolescentes iranianos. Não existe, à data, nenhuma ferramenta traduzida e adaptada para a língua portuguesa que avalie a Literacia Alimentar e a Literacia Nutricional.

Objetivos: Traduzir e adaptar transculturalmente a escala Food and Nutrition Literacy para a língua portuguesa em adolescentes portugueses.

Metodologia: Após a obtenção da versão portuguesa da escala (por um processo de tradução e retro tradução), procedeu-se à sua adaptação transcultural através da participação de 30 adolescentes numa entrevista semi-estruturada com a aplicação direta de uma versão preliminar da escala. Realizou-se a análise qualitativa das transcrições e reformulou-se a escala. Solicitou-se a revisão e validação da escala a um painel de peritos. Calculou-se, o Índice de Validade de Conteúdo e a Média do Índice de Validade do Conteúdo da Escala para a relevância, adequação e clareza de cada item. Os itens com um Índice de Validade de Conteúdo<0,83 foram reformulados.

Resultados: Oito adolescentes (30,8%) apresentaram um nível de literacia moderada. As raparigas apresentaram uma pontuação significativamente superior à dos rapazes (69,4% vs. 64,3%, p=0,021). A subescala “Literacia crítica em alimentação e nutrição” foi a que teve uma menor mediana de pontuação (30,8%). Este trabalho culminou na obtenção da versão final da escala em língua portuguesa.

Conclusões: Com esta escala será possível quantificar o nível de Literacia Alimentar e Literacia Nutricional dos adolescentes portugueses e avaliar a efetividade dos projetos de intervenção e políticas alimentares relacionadas com esta temática nesta faixa etária.

O aumento das doenças relacionadas com a alimentação tem sido associado a maus hábitos alimentares e a baixos níveis de conhecimentos e competências relacionados com a alimentação. Por isso mesmo a Literacia Alimentar e a Literacia Nutricional têm ganho cada vez mais relevância na promoção da saúde.

A Literacia Nutricional concentra-se nas capacidades para compreender informações relacionadas com nutrientes, enquanto que a Literacia Alimentar constitui um conceito mais holístico, capaz de abordar todos os conhecimentos e competências necessários para escolhas alimentares e comportamentos mais saudáveis. Tendo em conta a falta de consenso na literatura relativamente a estes dois conceitos, a definição de Vidgen & Gallegos (2014) sobre Literacia Alimentar é a mais completa e inclusiva até à data.

Foram analisadas 18 ferramentas de avaliação de Literacia Nutricional e Literacia Alimentar, e identificadas as ferramentas SPFL e IT-FLS como as mais indicadas para uma futura aplicação na população portuguesa. Apesar disto, existe ainda necessidade de uma maior investigação no sentido de desenvolver uma ferramenta suficientemente abrangente que permita avaliar e comparar níveis de Literacia Alimentar como um todo, e por sua vez trabalhar na melhoria da saúde das populações.