A manipulação de alimentos crus pode ter impacto na segurança alimentar, pelo que é frequente a desinfeção dos hortofrutícolas com recurso a produtos à base de cloro. Contudo, têm-se levantado questões sobre a sua segurança para a saúde pública e meio ambiente. É também importante considerar o impacto da desinfeção destes hortofrutícolas no consumo de água. O presente estudo teve como objetivos avaliar o impacto da desinfeção de hortofrutícolas no consumo de água (fase I) e no seu perfil microbiológico (fase II). Na fase I, quantificou-se a água consumida na lavagem com água potável (V0) e desinfeção com hipoclorito de sódio (70ppm) seguido de enxaguamento (V1). Verificou-se que o volume médio de água consumida em V0 representa 30% e em V1 representa 70%. Na fase II, foram realizadas análises microbiológicas às amostras de hortofrutícolas sem lavagem (T0), lavados com água potável (T1) e submetidos a desinfeção com hipoclorito de sódio (70 ppm) seguido de enxaguamento (T2). Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas no perfil microbiológico dos hortofrutícolas entre as três etapas. Os resultados obtidos revelam que a desinfeção destes hortofrutícolas poderá ser dispensável. A eliminação deste procedimento pode levar à poupança média anual de 20 531 477 L de água. Estes dados salientam a importância de reduzir o consumo de água, sem comprometer a segurança alimentar, contribuindo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela Agenda 2030.
Atualmente é reconhecida a contribuição da etapa de consumo no valor estimado de desperdício alimentar em Portugal. Para compreensão e exploração deste fenómeno, em ambiente familiar, é reconhecido o benefício de uma abordagem sociológica e comportamental. O estudo objetivou a caracterização do perfl dos consumidores de uma cadeia de hipermercados portuguesa, face ao desperdício e reaproveitamento de hortofrutícolas em ambiente doméstico. Procedeu-se à aplicação indireta de um questionário, apelando ao conhecimento dos dados sociodemográfcos, hábitos de consumo, frequência de desperdício de hortofrutícolas e respetivo reaproveitamento. Foi calculado um índice de frequência de desperdício e um índice de reaproveitamento, com base nas questões inerentes ao seu conhecimento. Procedeu-se a uma regressão logística binária para avaliação do efeito das variáveis relativas aos dados sociodemográfcos e hábitos de consumo nos dois índices. Em diferentes lojas da mesma cadeia de hipermercados, foram recrutados 184 consumidores. Na análise multivariada, apenas as variáveis idade e zona geográfca detinham infuência signifcativa em ambos os índices. Foi possível verifcar que os consumidores oriundos das zonas centro e sul do país apresentam menor frequência de desperdício, e simultaneamente maior reaproveitamento. Detetou-se ainda que indivíduos com maior idade apresentaram uma menor frequência de desperdício, mas também menor reaproveitamento.