Introdução: O conhecimento dos determinantes do comportamento alimentar permite elaborar estratégias que previnam e tratem os seus desequilíbrios. A má evolução ponderal é o reflexo dos casos mais graves de perturbações alimentares em idade pediátrica.

Objetivos: Caracterizar o comportamento alimentar de crianças com má evolução ponderal e sua história familiar de má evolução ponderal ou baixo peso. Relacionar o comportamento alimentar de crianças com má evolução ponderal e o comportamento alimentar dos pais/cuidadores. Comparar crianças com e sem irmãos mais velhos, relativamente ao comportamento alimentar e medidas antropométricas.

Metodologia: Neste estudo transversal foi usado o comportamento alimentar das crianças foi avaliado através do Questionário do Comportamento Alimentar da Criança. Para cada criança, um pai/cuidador respondeu ao Questionário Holandês do Comportamento Alimentar. Dados clínicos e familiares foram recolhidos durante a consulta de Nutrição Pediátrica.

Resultados: Avaliou-se uma amostra de 33 crianças (3 aos 13 anos). As crianças apresentavam pontuações mais elevadas nas subescalas relacionadas com o evitamento da comida (Sub-ingestão emocional, Seletividade alimentar, Ingestão lenta e Resposta à saciedade) e mais baixas nas relacionadas com a atração pela comida (Prazer em comer, Resposta à comida, Sobre-ingestão emocional, Desejo de beber). Um terço apresentava história familiar de baixo peso ou má evolução ponderal. A resposta à comida estava positivamente associada com a ingestão externa de pais/cuidadores (R = 0,385; p = 0,027), e a sobre-ingestão emocional com a restrição dos pais/cuidadores (R = 0,485; p = 0,004). As crianças com irmãos mais velhos tinham maior prazer em comer (média = 2,59; dp = 0,93 vs. 2,00; dp = 0,60; p = 0,046) e menor seletividade alimentar (média = 3,09; dp = 0,91 vs. 3,77; dp = 0,55; p = 0,017), comparando com as que não tinham irmãos mais velhos. Apresentavam também percentis de peso inferiores (n = 17; mediana = 16,5 vs. 1,0; p = 0,023).

Conclusões: A história familiar poderá ser relevante, uma vez que um terço das crianças com má evolução ponderal tinha relatos de má evolução ponderal e/ou baixo peso na família. Ter irmãos mais velhos foi associado a comportamentos alimentares mais favoráveis, apesar de não se refletir diretamente no seu estado ponderal. Pais com maior ingestão externa identificam os filhos como tendo maior resposta à comida e pais com maior restrição alimentar identificam os seus filhos como tendo maior ingestão alimentar mediada por emoções.

 

Introdução: A auto-eficácia refere-se às crenças na capacidade de organizar e implementar planos de acção necessários para alcançar determinado resultado e à sensação de controlo sobre os comportamentos e ambiente. Apesar de este constructo ter algum grau de generalização quando consideradas tarefas ou comportamentos relacionados, como no caso do comportamento alimentar, apenas a Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global avalia aspetos gerais da auto-eficácia alimentar. Este instrumento mostrou boas propriedades psicométricas em estudantes portugueses do ensino superior.

Objetivos: Estudar as propriedades psicométricas da Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global em mulheres em tratamento de excesso de peso e estudar a relação da auto-eficácia alimentar com a idade, escolaridade e Índice de Massa Corporal.

Metodologia: Foi avaliada uma amostra de 63 mulheres acompanhadas em consultas de nutrição para tratamento de excesso de peso: idade média de 40 anos (DP = 11), escolaridade média de 9 anos (DP = 4) e Índice de Massa Corporal médio de 36,4 Kg/m2 (DP = 7,0).

Resultados: Tal como no estudo original em estudantes do ensino superior, a escala apresentou boa fiabilidade (α = 0,864) e uma estrutura unifatorial, com o fator extraído a explicar 67,4% da variância total. As associações com outros instrumentos revelaram boa validade convergente e discriminante. A pontuação na Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global não teve correlação significativa com a idade (r = -0,004, p = 0,973), a escolaridade (r = -0,223, p = 0,090) ou o Índice de Massa Corporal (r = -0,164, p = 0,215).

Conclusões: Os resultados deste estudo indicam que a Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global apresenta boas propriedades psicométricas em mulheres em tratamento de excesso de peso e que este instrumento parece ser adequado para uso em contextos clínicos.