As perturbações mentais estão a tornar-se mais prevalentes a nível global, e existe evidência de que a nutrição é um fator crucial no que diz respeito à sua prevalência e incidência. As abordagens de tratamento mais utilizadas, a psicoterapia e a psicofarmacoterapia, nem sempre são acessíveis, toleráveis ou eficazes no alívio dos sintomas. As dietas cetogénicas, restritas em hidratos de carbono, moderadas em proteína e ricas em gordura, são há muito utilizadas no tratamento de epilepsia refratária e, mais recentemente, têm vindo a ser investigadas no âmbito de muitas outras condições metabólicas, neurodegenerativas e do neurodesenvolvimento. Este trabalho pretende rever a evidência existente relativamente à utilização das dietas cetogénicas na prevenção e tratamento de perturbações mentais. Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados PubMed e Scopus, de fevereiro a junho de 2022. Os estudos encontrados atribuem às dietas cetogénicas um efeito ansiolítico, antidepressivo, estabilizador do humor e antipsicótico, para além de reduções significativas na sintomatologia de várias outras perturbações, como autismo, ingestão compulsiva, hiperatividade e abuso de substâncias. Contudo, os estudos em humanos são escassos e de baixa qualidade. Em conclusão, a escassez de ensaios clínicos aleatorizados e controlados não permite traçar, neste momento, conclusões firmes sobre a eficácia das dietas cetogénicas nas perturbações mentais. No entanto, o seu carácter promissor justifica a realização de mais estudos.
Vários estudos têm explorado o papel dos corpos cetónicos nos processos fisiológicos envolvidos no despontar de convulsões sendo a dieta cetogénica uma opção de tratamento usual na epilepsia fármaco-resistente, quer em crianças, adolescentes ou adultos. A presente revisão narrativa procura resumir a evidência disponível sobre os possíveis mecanismos de ação e eficácia da dieta cetogénica e suas variantes no tratamento da epilepsia de crianças a adultos. Apesar da forte plausibilidade biológica e da existência de estudos mecanicistas e ensaios clínicos controlados e aleatorizados que suportam a dieta cetogénica como uma abordagem válida para reduzir a probabilidade de convulsões na epilepsia fármaco-resistente em crianças, o nível de evidência não é tão forte para a sua utilização no tratamento de adultos.