EDITORIAL
Acta Portuguesa de Nutrição 2022, 28, 02 , https://dx.doi.org/10.21011/apn.2022.2801
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Resumo
Tempos difíceis
Aparentemente saído de uma pandemia, ou pelo menos da sua fase mais complicada, eis que o Mundo enfrenta agora novos desafios, com o eclodir do conflito na Ucrânia, decorrente da invasão Russa. Se é inegável que a pandemia por COVID-19 nos trouxe impactos muito significativos na forma como nos alimentamos (a Acta Portuguesa de Nutrição foi dando à estampa diversos artigos que o foram confirmando), parece hoje evidente que esta guerra irá trazer também problemas a este nível. O país em cujo território ocorrem os combates, a Ucrânia, é um fornecedor importantíssimo de diversos produtos alimentares à escala global e a quebra previsível na sua capacidade de os produzir e distribuir irá certamente afetar toda a cadeia de preços de muitos dos alimentos que consumimos diariamente. Se a isto acrescentarmos os problemas relacionados com o custo crescente dos combustíveis, aos quais a guerra também não é alheia, estão criadas as condições para a existência de problemas sérios na capacidade de, sobretudo as franjas mais frágeis da população, conseguirem satisfazer cabalmente as suas necessidades alimentares.
É neste contexto de franca incerteza que esta edição da Acta Portuguesa de Nutrição se publica. Destacamos os dois artigos dedicados à Dieta Mediterrânica, um original por Rei e colaboradores e outro de revisão por João e colaboradores. A Dieta Mediterrânica mantém-se como modelo alimentar de excelência, com prova científica crescente acerca da sua capacidade em reduzir a incidência de várias doenças crónicas. Mas o que aqui pretendemos realçar são outras das suas características, que se parecem ajustar à complicada conjuntura acima descrita. É certo que presentemente será muito difícil, ou mesmo impossível, sustentar cada população ou cada país apenas com alimentos de produção local. Mas se todos fizermos um esforço por procurar esse tipo de alimentos e na altura do ano própria, respeitando assim a sazonalidade de cada um, estaremos certamente a aproximarmo-nos de um padrão alimentar mais próximo do Mediterrânico, com todas as consequências positivas que daí advêm.
As guerras são sempre ocasiões que nos envergonham enquanto comunidade, deixando sempre os mais frágeis expostos às suas piores consequências. A comunidade científica, nomeadamente os que se dedicam ao estudo da Alimentação e Nutrição, deve procurar mitigar ao máximo estes efeitos, aplicando os seus conhecimentos e fazendo ouvir a sua voz.